Hoje nosso secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, se disse "horrorizado" com as declarações do ex-comandante do Batalhão de Choque, coronel Fábio, no whatsapp. Para quem não leu a reportagem da Veja, em um grupo de mensagens para oficiais da PM, o coronel escreveu atrocidades como a defesa do uso de fuzil 7.62 contra manifestantes e a comemoração de um tiro de bala de borracha nas costas de um protestante a cerca de 30 metros de distância.
O curioso dessa história é que as atrocidades cometidas pela PM durante as manifestações foram amplamente divulgadas pela imprensa ao longo de todo 2013 e 2014. Eram casos de agressões de manifestantes, uso indiscriminado de armas não letais, prisões ilegais, cerceamento do trabalho da imprensa, impedimento ilegal da circulação de pessoas etc etc. Um policial chegou ao ponto de chutar o rosto de um jornalista estrangeiro, que já estava no chão, machucado.
O curioso dessa história é que as atrocidades cometidas pela PM durante as manifestações foram amplamente divulgadas pela imprensa ao longo de todo 2013 e 2014. Eram casos de agressões de manifestantes, uso indiscriminado de armas não letais, prisões ilegais, cerceamento do trabalho da imprensa, impedimento ilegal da circulação de pessoas etc etc. Um policial chegou ao ponto de chutar o rosto de um jornalista estrangeiro, que já estava no chão, machucado.
Mas nada disso pareceu deixar "horrorizado" o secretário de segurança, o superior hierárquico de todos os policiais militares do Rio de Janeiro.
O caro secretário Beltrame só ficou ultrajado quando ele viu um oficial defendendo as atrocidades em mensagens privadas do whatsapp.
Apenas uma pergunta, Beltrame. Em nenhum momento, o senhor se questionou por que a polícia atuou de forma violenta, absurda, animalesca, ineficaz e ilegal durante as manifestações populares de 2013 e 2014?
Se o senhor (que aliás, como comandante das polícias é corresponsável por todos os desvios da tropas) tivesse buscado saber por que a polícia estava espancando cidadãos e jornalistas durante os protestos, teria sabido desde o primeiro dia que o comando do Batalhão de Choque estava incentivando seus homens a agir como animais.
Sim, Beltrame. Eu fiquei horrorizado desde a primeira vez em que estive em uma manifestação e vi, com meus próprios olhos, o que aqueles representantes do Estado estavam fazendo com os cidadãos que deveriam proteger.
Fiquei horrorizado com o que soldados, cabos, sargentos, oficiais e comandantes estavam fazendo nas ruas. E fiquei horrorizado com os chefes das polícias, com o senhor, secretário Beltrame, e com o governador do estado por fecharem seus olhos para as barbaridades cometidas por seus subordinados.
O senhor, secretário, é tão responsável pelo braço quebrado, pelo olho inchado e pelo hematoma de cada cidadão que sofreu com os abusos quanto esses militares descontrolados.
O senhor, Beltrame, é responsável por cada sequestro (sim, SEQUESTRO, porque muitos cidadãos não eram presos, mas arrastados pelos policiais sem terem cometido qualquer crime) cometido por policiais nessas manifestações.
É lamentável ver como o senhor, uma autoridade de altíssimo prestígio junto à população, tente se isentar de suas responsabilidades. Mas o mais lamentável é saber que essa é apenas a ponta do iceberg de um sistema policial que ainda acha que está acima da lei e que ainda age como a Santa Inquisição na Idade Média, o capitão do mato do Brasil colônia, a guarda do rei ou o agente da ditadura.
Um sistema policial que não evoluiu com a sociedade.
Policiais não acham que estão acima da lei apenas nas manifestações. Eles acham que estão acima da lei quando achacam cidadãos, quando atiram a esmo nas ruas da cidade, quando, com sua arma, ameaçam outros cidadãos e até agentes do Estado.
E a polícia continua se pensando acima da lei, porque seus superiores nada fazem para colocar ordem na casa. Superiores como o senhor, secretário Beltrame, ou o governador do Estado.