segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Enquanto caem os homicídios, desaparecimentos continuam crescendo no Rio de Janeiro

Nos nove primeiros meses do ano, cresceu o número de pessoas desaparecidas no estado do Rio. De janeiro a setembro deste ano, ocorreram 4.432 desaparecimentos, 236 a mais em relação ao mesmo período do que ano passado. Um crescimento equivalente a 5,6%, segundo dados divulgados hoje (22) pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Por outro lado, os registros de homicídios diminuíram 7,8%. Foram anotados 3.028 homicídios, 255 casos a menos que em 2011. Em setembro, o ISP computou 515 casos de pessoas desaparecidas, cerca de 25% a mais do que os 414 do mesmo mês de 2011. Os números do instituto mostram ainda que esse tipo de ocorrência vem crescendo nos últimos anos: em 2006, foram 4.562 casos, saltando para 5.488 (20%), em 2011. Uma das razões para o crescimento pode estar em uma mudança de comportamento de grupos criminosos do Rio de Janeiro, que, em vez de abandonar o corpo de suas vítimas, passaram a escondê-los. Segundo pesquisa divulgada no início deste mês, pelo Laboratório de Análise da Violência, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a estratégia de sumir com o corpo estaria sendo usada pelas milícias (grupos paramilitares formados, em grande parte, por policiais e ex-policiais que controlam comunidades populares para explorar diversos serviços). O estudo mostrou que, nas áreas de milícia, há um aumento nos desaparecimentos, ao mesmo tempo em que diminuem os registros oficiais de mortes violentas. Mas para um dos coordenadores do estudo, o pesquisador Ignacio Campo, isso é difícil de comprovar. “É difícil saber o que está por trás desse crescimento [dos registros de desaparecimento], sem uma pesquisa mais específica. Os desaparecimentos incluem alguns casos de homicídios, mas incluem também muitos casos que não têm nada a ver com homicídios. Sem dúvida nenhuma, é um caso para fica alerta”, declarou. Até o fechamento desta matéria, a Secretaria de Segurança Pública não respondeu à solicitação de entrevista feita pela Agência Brasil. *Reportagem publicada na Agência Brasil

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Moradores reclamam de revistas de casas no Jacarezinho

Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que ocupam a favela do Jacarezinho desde a última terça-feira (16), se reuniram hoje (19) com moradores da comunidade da zona norte da cidade do Rio. O objetivo do encontro foi apresentar os procedimentos dos policiais durante a ocupação, como a revista de suspeitos e a busca em residências. Mais de 300 pessoas se reuniram na quadra da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho. A maioria só queria ouvir o que os policiais tinham a dizer, mas alguns tinham dúvidas e incertezas em relação ao dia a dia da ocupação, ao funcionamento do comércio e ao trânsito dos mototaxistas. Liandra Rodrigues da Silva, de 31 anos, pediu a palavra para reclamar de uma tentativa de invasão supostamente cometida por policiais.“Eu gostaria de pedir um favor. A gente trabalha, então, quando vocês vão fazer uma revista a gente não está em casa. Eu queria pedir que não tentem forçar minha porta novamente. É só agendar um horário que eu abro a porta para vocês”, disse Liandra, aplaudida por quase todos os moradores. Depois, à Agência Brasil, ela disse que não foi possível identificar quem tentou arrombar sua porta, mas há histórico de tentativas de arrombamento pela polícia. O comandante do Bope, tenente-coronel René Alonso, pediu aos moradores que se certifiquem de que a tentativa de arrombamento foi feita pela polícia, antes de culpar os policiais. Segundo ele, há muitos casos de outras pessoas que se aproveitam da ausência do dono da casa para entrar e roubar seus pertences. O morador Araguaci do Carmo, de 53 anos, disse que muitas pessoas estão reclamando de que tiveram suas casas revistadas várias vezes. “Algumas residências são duas, três, quatro vezes revistadas num dia. Vim pedir para que sinalizem as casas revistadas, para evitar que sejam revistadas de novo. Mas ninguém está reclamando da ocupação”, disse. O comandante garantiu que vai passar a marcar essas casas, para evitar buscas continuadas em um mesmo local. Durante a reunião, René Alonso pediu que os moradores denunciem casos de abuso. Garantiu a Polícia Militar não recebeu denúncia de desvios cometidos por policiais. “Pelo contrário, o que a gente recebeu são informações positivas a esse respeito”, disse. O tenente-coronel negou que haja toque de recolher e disse que eles podem circular pela comunidade a qualquer hora do dia. Sobre eventos culturais, informou que precisam ser autorizados com antecedência, para evitar transtornos a outros moradores. Os mototaxistas, segundo ele, serão alvo de fiscalização, para verificar se sua documentação está em dia e se o condutor usa o equipamento exigido pelas leis de trânsito

sábado, 15 de setembro de 2012

Chacina da Chatuba: O “desespero” dos bandidos e a desculpa do governo quando a violência foge do controle

Tenho andado um pouco afastado do meu blog. E a todos que me perguntam sobre isso, respondo que, nos últimos meses, não tenho tido muita paciência para escrever textos longos, e que, às vezes, me sinto uma voz solitária criticando a “mágica e perfeita política de segurança pública” do estado do Rio de Janeiro. Por isso, nesse período, deixei de escrever comentários sobre diversos casos da segurança pública estadual. Mas não podia deixar de escrever sobre a chacina da Chatuba, mais uma das eventuais chacinas que ocorrem na Baixada Fluminense. Na verdade, não vou escrever aqui sobre a Chacina em si, ou sobre a brutalidade dos criminosos que executaram jovens inocentes simplesmente porque cometeram o erro de cruzar a fronteira invisível de seu território ilegal. Ou sobre o fato de que, somente no primeiro semestre deste ano, 730 pessoas foram assassinadas na Baixada Fluminense, ou seja, quatro por dia (ou uma chacina por dia). Nem vou falar sobre os 78 cadáveres encontrados (um a cada dois dias) ou as 787 pessoas desaparecidas (das quais muitas serão encontradas como cadáveres ou ossadas pela polícia ou nem isso). Só essas informações assustadoras já dispensam qualquer avaliação minha. O leitor com o mínimo de instrução vai perceber como ainda estamos a anos-luz de uma solução para a violência do Rio de Janeiro. Ainda que os dados oficiais insistam em dizer que houve 10%, 20%, 25% de redução em tal indicador criminal, podemos ver, com nossos próprios olhos, que estamos longe de um Rio pacificado. Mas gostaria de escrever mesmo sobre o discurso adotado pelo governo fluminense após essa demonstração hedionda de que a violência persiste em terras fluminenses. Como todos puderam ver em jornais, sites da internet e canais de televisão, nosso governador, Sérgio Cabral (que surpreendentemente estava no Rio de Janeiro durante a chacina), disse que a chacina foi um ato “desesperado” dos bandidos diante da política de pacificação do Rio de Janeiro. Hahahahahaha... Espera um pouco. Deixa eu recuperar o fôlego. Hahahahahahahahahaha... ...Só um minuto... ...Tá.... Quer dizer que criminosos terem matado dez pessoas (as seis encontradas inicialmente e mais quatro corpos que estavam sumidos) demonstra que eles estão desesperados com a política de segurança do governo? Espera um pouco. Bandidos vêem jovens andando na favela, resolvem torturá-los e matá-los. Jogam o corpo num lugar qualquer e, no momento seguinte, voltam a vender drogas, lucrar com seu comércio ilegal sem ser perturbados pela polícia, andar armados e continuar colocando o terror na comunidade, como fizeram pelos últimos 30 anos. Me desculpa, governador, mas isso não parece desespero. Parecem criminosos fazendo o que sempre fizeram, conscientes de que o Estado não vai fazer nada para impedi-los. Desespero seria se eles saíssem correndo para outro país, deixando todas as comunidades fluminenses livres da dominação armada ilegal. Vamos então tentar entender o discurso do governador. O que ele quer dizer com “desespero” dos criminosos? Bem, para aqueles que chegaram agora ao planeta Terra e não assistiram à TV Globo nos últimos três anos, o governo fluminense inventou um negócio chamado Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Trata-se de destacamentos policiais que ocupam favelas antes totalmente controladas por criminosos. Durante a ocupação, na maioria das vezes anunciada pelo governador do estado do Rio de Janeiro, excelentíssimo senhor Sérgio Cabral, sem que seja feito um cerco policial prévio à área, os principais líderes criminosos da comunidade e aqueles que têm mandados de prisão expedidos contra si, saem da favela e simplesmente vão, com grande parte de suas armas e drogas, para outra favela. A propósito, existem mais de 1.500 em todo o estado. A partir daí, os policiais são presença constante naquela favela ocupada. Mas a presença física deles não exclui completamente as atividades ilegais nesse território. Criminosos não procurados pela polícia passam a representar o antigo chefe nessas áreas. O comércio ilegal de drogas permanece e o lucro continua sendo remetido para seus antigos donos (seja onde eles estiverem). Nenhuma mudança no status quo até aí, certo? Afinal, a maioria das lideranças criminosas já estavam presas em cadeias mesmo antes das UPP. E seu controle de determinado território era feito através de testas de ferro, certo? Bem, continua sendo assim. E os novos testas de ferro continuam precisando defender seu comércio ilegal nessas comunidades “pacificadas”, por meio de armas. Afinal, ainda existem inimigos potenciais querendo roubar seu lucrativo negócio, clientes dando calote e testemunhas querendo denunciar a atividade à polícia. Dependendo do tamanho do território que esses criminosos precisam defender, independente da presença da UPP, eles podem recorrer a revólveres, pistolas ou até fuzis, como antigamente. E, como estão armados, e seus chefes continuam soltos por aí, em um temporário exílio a poucos quilômetros dali, esses bandidos continuam impondo certo controle sobre os moradores e comerciantes das comunidades “pacificadas”. E, muitas vezes, a polícia pacificadora corrompida facilita o negócio. Até agora, cerca de 140 favelas da cidade do Rio de Janeiro, já passaram por esse processo. Incluindo o famigerado Complexo do Alemão e, de forma ainda incompleta, a Rocinha (que já está ocupada há quase um ano, mas não tem UPP). Ambas favelas continuam dando rios de dinheiro para os criminosos que as controlam. Agora, me diga, você estaria desesperado com uma situação dessa, se você fosse um chefe de quadrilha? Agora, continuemos o raciocínio. Existem outras mais de 1.300 favelas onde você poderia estabelecer residência, a maioria no subúrbio, zona oeste, Baixada Fluminense e Grande Niterói, e continuar coordenando, a distância o comércio em seu antigo feudo. Além do mais, nessas outras mais de 1.300 favelas, o Estado nada fez para interromper os negócios ilícitos e o controle territorial dessas quadrilhas. Ou seja, as quadrilhas que controlam essas áreas não foram presas, continuam acumulando dinheiro, comprando armas, roubando cidadãos nas ruas das cidades e matando pessoas, sem que o Estado faça nada para impedir. Realmente, deve dar um desespero para o bandido, uma situação como essa. Além do mais, Cabral, esse discurso não é novo. Antes de você, governadores como Anthony Garotinho, Benedita da Silva e Rosinha Garotinho já lançaram mão dele. Afinal, é muito cômodo para qualquer governante: se está tudo bem, é porque está dando certo, se a violência explode, é porque os criminosos estão desesperados com a “ação” do Estado.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Criminosos que fugiram de áreas pacificadas estão se reorganizando em outras favelas do Rio, diz Cabral

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, reconheceu hoje (11) que lideranças criminosas que fugiram de áreas pacificadas pela Polícia Militar estão em outras favelas do estado se reorganizando e tentando “manter a estrutura do poder paralelo”. Ele fez a declaração ao comentar a morte de seis jovens na Favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, controlada por criminosos armados. As unidades de Polícia Pacificadora (UPP) são a principal política de segurança pública do estado e já foram implantadas em cerca de 140 favelas da cidade do Rio de Janeiro. No entanto, ainda há mais de mil favelas em todo o estado controladas por criminosos armados. Até o momento, nenhum outro município fluminense recebeu uma UPP. Perguntado por jornalistas, Cabral não confirmou se alguma favela da Baixada Fluminense será alvo de uma unidade pacificadora. “As comunidades que ainda são dominadas pela presença física da marginalidade armada acabam hospedando marginais líderes nas comunidades pacificadas que fogem, que não foram presos. Eles conseguem escapar e ir para essas comunidades se reorganizar e tentar manter a estrutura do poder paralelo. Isso tem sido bem claro para a gente. A gente não tem ilusão”, disse o governador. Durante o processo de expansão das UPPs, o governador fluminense adotou a postura de avisar o local de instalação da próxima unidade, o que gerou críticas de que o anúncio permitia a fuga de criminosos e a retirada de armas dessas comunidades. A Favela da Chatuba foi ocupada hoje pela Polícia Militar, que informou que instalará no local um posto permanente. Perguntas que não querem calar: -E não seria função do governo do estado evitar que isso acontecesse? -Por que o governo está os deixando se reorganizar? -O que o governo do estado fez, em termos de segurança, além das UPPs? -O que o governo fez pelo Grande Rio e interior? -Quando Cabral avisava sobre as próximas ocupações de favelas não imaginava que isso poderia acontecer?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

No Rio “pacificado”, Justiça eleitoral vai pedir que Exército atue em favelas com UPPs durante eleições

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE/RJ), Luiz Zveiter, anunciou hoje que, durante as eleições municipais de outubro deste ano, serão criadas no estado do Rio de Janeiro “zonas de exclusão”. Trata-se de áreas que funcionarão no entorno de algumas seções eleitorais fluminenses, durante o período de votação, em que os cidadãos não poderão ficar parados ou zanzando a toa. A ideia é evitar que grupos criminosos, como milícias e traficantes, coajam eleitores a votar nos candidatos apoiados por essas quadrilhas. Para patrulhar essas zonas “críticas” onde a intromissão de criminosos no processo eleitoral ainda impera, Zveiter vai pedir a ajuda do Exército, que prenderá os cidadãos que desrespeitarem as restrições de circulação nessas áreas. Até aí tudo bem. o Exército já participou de esquemas de segurança em eleições anteriores, justamente para garantir o sagrado direito ao voto de cada cidadão. O interessante nessa história é lembrar que a atuação de grupos criminosos ainda segue forte no estado do Rio de Janeiro, apesar do governo querer passar a ideia de que o Rio está se livrando do jugo desses bandos. Mais ainda, que continua forte a ligação desses grupos criminosos com “políticos” no estado. Ou seja, traficantes e milicianos continuam “patrocinando” a campanha de determinados candidatos, para elegê-los e manter sua influência nas casas legislativas (e por que não, nos executivos) do estado. O mais surpreendente dessa história toda ainda está por vir. Zveiter disse que, entre as áreas críticas onde o direito democrático ao voto vive sob risco, estão comunidades “beneficiadas” com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que supostamente, segundo o governo do estado do Rio de Janeiro, estão “livres da ditadura do tráfico”. Em suma, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizar o uso do Exército nas eleições do Rio de Janeiro, as forças armadas vão ocupar favelas “pacificadas”. A questão é: se é necessário que os verdes-olivas subam favelas “pacificadas”, com seus fuzis e blindados, para garantir que cidadãos exerçam um direito básico, então as UPPs não estão conseguindo atingir seu intento com eficácia. Zveiter não revelou que favelas são essas, que precisam de militares fortemente armados para garantir uma votação sem problemas. Mas possivelmente Rocinha e Complexo do Alemão estão entre elas. Ambas favelas estão ocupadas há meses pelas forças policiais, mas não conseguem evitar a atuação ostensiva de quadrilhas armadas. O mesmo acontece com o Complexo do São Carlos e outras comunidades, em menor escala. Esse post é apenas para refletir que ainda temos um longo caminho pela frente para dizermos que os problemas de violência e criminalidade estão resolvidos.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Grupo que analisa revisão da Lei Antidrogas retoma trabalhos depois de um ano e meio parado

Depois de quase um ano e meio parado, o grupo de trabalho criado pelo governo federal para analisar possíveis mudanças na Lei Antidrogas do país retomou suas atividades em maio deste ano. Segundo o Ministério da Justiça, a paralisação nas atividades do grupo foi causada pela mudança na estrutura da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), transferida da Presidência da República para a pasta. O grupo de trabalho ganhou projeção da imprensa em 2010, quando o então secretário nacional de Políticas sobre Drogas, general Paulo Roberto Uchoa, disse que o grupo pretendia elaborar um projeto de revisão da Lei 11.343/2006 (Lei Antidrogas). Entre as propostas de mudança estava tornar mais clara a distinção entre traficantes e usuários. Hoje, a lei delega aos policiais, promotores e juízes a função de decidir quem é usuário e quem é traficante, com base em informações como a natureza e quantidade da droga, as condições do flagrante, as circunstâncias sociais e pessoais, a conduta e os antecedentes do suspeito. A distinção é importante porque a lei define uma pena de cinco a 15 anos de prisão para quem vende ou distribui a droga, isto é, o traficante. Já o usuário não pode ser preso, uma vez que as penas previstas são somente advertência, prestação de serviços à comunidade e comparecimento a curso educativo. Em 2011, o grupo parou de se reunir. A atual secretária nacional de Políticas sobre Drogas, Paulina Duarte, que era secretária adjunta na antiga Senad, garante, no entanto, que o grupo de trabalho não tinha chegado a qualquer conclusão sobre se a lei de 2006 deveria ser revista. Por isso, como não havia qualquer avanço, a paralisação não chegou a comprometer o trabalho do grupo, de acordo com Paulina Duarte. “Não havia nenhum documento formatado, nenhuma resolução, nada no grupo. Havia apenas discussões. Não havia nenhuma demanda do governo para discutir essa questão [da diferenciação mais clara entre usuário e traficante]”, disse. Segundo ela, a principal preocupação do governo brasileiro é que a lei seja aplicada corretamente. Por isso, o grupo de trabalho ressaltou, na época em que ainda estava ativo, a importância de se capacitar operadores do direito, como policiais, defensores, promotores e magistrados. Neste momento, 15 mil pessoas estão recebendo orientação sobre como aplicar a Lei 11.343/2006. “Agora, é evidente que existem pontos da lei que tentamos melhorar. Agora mesmo, com o lançamento do plano Crack, É Possível Vencer, a presidenta Dilma mandou um pedido de modificação da lei de drogas para o Congresso, que é para acelerar a venda de bens de traficantes de drogas, para a gente poder utilizar o dinheiro em ações de prevenção e repressão”, disse. O grupo de trabalho também deve contribuir para o estudo que será feito pela Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a atual política de repressão às drogas adotada nas Américas e sobre possíveis alternativas a ela. Depois de finalizado, o estudo da OEA será entregue a cada um dos presidentes do continente, que poderão usá-lo para decidir que rumo tomar em suas políticas contra as drogas. *Reportagem publicada na Agência Brasil

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Ocupação do Morro Santo Amaro com a Força Nacional de Segurança: um novo ato do espetáculo circense montado pelo governo do Rio

Hoje acordei com a notícia de que o Morro Santo Amaro, no Catete, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, está sendo ocupado pela polícia e pela Força Nacional de Segurança. A ação supostamente faz parte do plano nacional de combate ao crack, do governo federal. A justificativa oficial é que o Morro, que era um dos poucos da zona sul que ainda não havia sido "pacificado" pela Polícia Militar, serve de entreposto para a venda e distribuição do subproduto da cocaína para diversas áreas da zona sul do Rio de Janeiro. A questão é que, se tem uma coisa que é unanimidade no que se refere às Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) é: a ocupação militar não consegue acabar com a venda de drogas nas favelas. Isto até o governo admite. De acordo com o próprio secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, o objetivo da ocupação das favelas com a polícia pacificadora é "acabar com a ditadura do fuzil" (seja lá o que isso significar). Se a UPP consegue realmente acabar com a ditadura do fuzil, essa é uma questão discutível (na minha opinião, as UPPs conseguem, no máximo, minimizar a "ditadura do fuzil" mas não acabar com ela). Mas o que Beltrame diz, com certeza, é que o objetivo dessas ocupações não é "acabar com a venda de drogas", algo que, segundo ele, é impossível de se atingir com uma simples ocupação militar. Por que diabos então a estratégia escolhida pelo governo para "acabar" com a venda de crack na zona sul é OCUPAR a favela Santo Amaro? É claro que isso não vai dar certo. É óbvio que essa é uma ação para chamar a atenção do público (como o foram todas as ocupações de favelas ocorridas nos últimos quatro anos). Ainda mais porque eles decidiram chamar a Força Nacional de Segurança (lembram dela?) para fazer a ocupação. Depois que ocupou grandes favelas como a Rocinha e o Complexo do Alemão, o governo sabia que uma simples ocupação policial numa favela minúscula como o Morro Santo Amaro não seria espetáculo suficiente. Por isso, chamou a Força Nacional de Segurança para requentar o show e dar um suposto ineditismo na ação (que não tem nada de inédita). Depois do Exército, Marinha e Força Nacional, qual será a próxima cartada do governo do Estado, para continuar espetacularizando as ocupações em favelas? Usar os ex-combatentes da Segunda Guerra? Ocupar favelas com os Dragões da Independência? Pedir ao Conselho de Segurança da ONU uma força de paz multinacional? A imaginação da Secretaria de Segurança não tem fim...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Expandir projeto e consolidar novas UPPs é tarefa difícil, diz secretário de Segurança do Rio

É, Beltrame... Nada como um choque de realidade para o governo fluminense começar a perceber que a UPP está longe de ser a "cura milagrosa" para a violência do Rio

A expansão do projeto e a consolidação das novas unidades de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio de Janeiro será tarefa difícil, diz o secretário de Segurança do estado, José Mariano Beltrame. Segundo ele, as UPPs contrariam interesses de criminosos que estão instalados nas favelas da capital fluminense há décadas.

Casos recentes de violência têm mostrado que quadrilhas armadas continuam exercendo controle sobre territórios considerados pacificados, como o Complexo do São Carlos, no centro da cidade, e o Morro da Mangueira, na zona norte, onde há UPPs instaladas há meses, além da Rocinha, na zona sul, e do Complexo do Alemão, no subúrbio, áreas que ainda não têm UPPs, mas estão ocupados há meses por forças policiais ou militares.

“Não há UPP fácil. Não há nada fácil no projeto. Não vamos conseguir mudar uma realidade histórica em meses. Se vai ser difícil [consolidar novas UPPs]? Tenho certeza de que vai ser difícil, porque mexe-se com interesses que estão instalados ali historicamente”, afirmou Beltrame.

O projeto das UPPs prevê a instalação dessas unidades em cerca de 40 áreas, que incluem mais de 150 favelas do estado. Até o momento, já foram implantadas 19 UPPs em cerca de 60 comunidades. O Complexo do Alemão, que está ocupado pelo Exército e pela Polícia Militar desde novembro de 2010, e a Rocinha, ocupada pela PM desde novembro do ano passado, devem ganhar UPPs ainda neste ano.

Em entrevista durante a abertura da feira internacional de segurança pública Laad Security 2012, no Rio de Janeiro, o secretário disse acreditar que a parte mais difícil do projeto de expansão e consolidação das UPPs está sendo executada neste momento, com a ocupação da Rocinha e do Complexo do Alemão.

"Nós não vamos desistir ou mudar esse programa. O que podemos é intensificá-lo. Estamos atentos para que, cada vez mais, a população sinta-se a vontade com a polícia ali e que as coisas melhorem. Agora, acabar com o tráfico e com a violência é algo que, creio, ninguém pode garantir. Temos que ficar vigilantes e consolidar esse processo para daí avançar para outras áreas", disse Beltrame.

Há, no entanto, entre as cerca de mil favelas ainda não ocupadas, comunidades consideradas violentas e que concentram grande atividade criminosa, como o Complexo da Maré, Jacarezinho, Manguinhos, as vilas Vintém e Kennedy e o Complexo da Coreia, todas no subúrbio do Rio.

Existem ainda comunidades no Grande Rio, principalmente na Baixada Fluminense, e nos municípios de São Gonçalo e Niterói que, segundo notícias veiculadas pela imprensa, teriam se tornado refúgio de criminosos fugidos de algumas favelas com UPPs.

*Reportagem publicada na Agência Brasil

quarta-feira, 14 de março de 2012

Justiça condena acusados de integrar cúpula do jogo do bicho no Rio de Janeiro a 48 anos de prisão

Cinco anos depois das investigações da Operação Hurricane, que resultaram na prisão de mais de 20 pessoas, entre magistrados, policiais e empresários de casas de jogos ilegais, a 6a Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro condenou acusados de integrarem a chamada “cúpula do jogo do bicho” no estado.

Vinte e três pessoas foram condenadas, entre eles, Ailton Guimarães Jorge, o capitão Guimarães, Aniz Abrahão David, o Anísio, e Antonio Petrus Kalil, o Turcão, por crimes como corrupção, contrabando e formação de quadrilha. Acusados de chefiarem a quadrilha, eles foram condenados a 48 anos e 8 meses de prisão, em regime fechado.

Entre as acusações está o pagamento de suborno a desembargadores e outras autoridades públicas. A Polícia Federal fez ontem (13) uma operação para cumprir dez mandados de prisão expedidos pela Justiça, para cumprimento da sentença.

Também investigados pela Operação Hurricane, dois desembargadores (José Eduardo Carreira Alvim e Ernesto da Luz Pinto Dória), o procurador regional da República João Sérgio Leal Pereira e o ministro do Superior Tribunal de Justiça Paulo Roberto Medina estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por terem foro privilegiado. A ação contra o desembargador José Ricardo Regueira foi extinta porque ele morreu em 2008.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Em apenas um mês, Força de Pacificação do Exército sofreu quase 90 ataques na Penha e no Alemão

O Exército registrou um aumento no número de ataques de criminosos contra a Força de Pacificação que ocupa os complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, nas últimas semanas. Segundo o assessor de comunicação da força, coronel Fernando Fantazzini, somente em fevereiro deste ano, os militares foram alvos de 89 ataques nos dois complexos de favelas, muitos deles com armas de fogo.

“Essa situação está se recrudescendo desde o final do mês de fevereiro e agora no início de março. Mais ataques hostis aconteceram contra a tropa nesse período, porque a nossa tropa começou a entrar mais em becos e a fazer um patrulhamento mais intensivo. Com esse patrulhamento chegando às vielas e aos becos, as reminiscências do crime organizado estão sendo incomodadas e estão tentando, de toda maneira, reagir à nossa ação”, disse Fantazzini.

No último sábado (10), os militares foram atacados com paus e pedras por manifestantes no Complexo da Penha, ao mesmo tempo em que o príncipe britânico Harry visitava o conjunto de favelas vizinho do Alemão. No mesmo dia, também foram registrados tiroteios entre criminosos e militares.

O Exército ocupou os dois complexos de favelas em novembro de 2010, com o objetivo de acabar com o controle do território por quadrilhas armadas e preparar terreno para a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Inicialmente, o Exército ficaria até o segundo semestre do ano passado, mas a permanência foi prorrogada porque a Polícia Militar não conseguiu formar policiais suficientes para a UPP.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Segurança pública no Rio teve 2011 marcado por chacina de Realengo, assassinato de juíza e ocupação da Rocinha

Realengo, 8 horas da manhã, de 7 de abril. Um jovem de 24 anos entra na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do subúrbio do Rio de Janeiro. Wellington de Oliveira é um ex-aluno e diz, na portaria, ter sido convidado para uma palestra. Naquele momento, ninguém além do próprio Wellington imaginava o que iria acontecer em seguida.

Pouco depois de entrar na escola, o ex-aluno sacou duas armas e disparou contra estudantes. O resultado foi um massacre, que deixou 12 crianças e adolescentes mortos, além de dezenas de feridos, e só terminou quando um policial, avisado por um dos alunos sobreviventes, interrompeu o tiroteio.

O episódio, que ficou conhecido como Chacina de Realengo, foi apenas um dos casos na área de segurança pública, no Rio de Janeiro, a ganhar destaque da imprensa nacional e internacional, em 2011.

No dia 12 de agosto, o assassinato da juíza criminal Patrícia Acioli, conhecida por sua atuação contra desvios de conduta de policiais militares, também ganharia destaque no noticiário. A juíza, que condenara e levara à prisão diversos policiais no município de São Gonçalo, no Grande Rio, foi morta na porta de casa, quando retornava do trabalho.

A suspeita recaiu sobre um grupo de 11 policiais militares, que estava na mira da juíza, por se envolver com criminosos e forjar autos de resistência, um procedimento administrativo em que a polícia alega que matou um suspeito porque ele resistiu, de forma violenta, à abordagem policial.

Um dos acusados da morte da juíza é um coronel da Polícia Militar (PM), ex-comandante do Batalhão de São Gonçalo, Cláudio Luiz Silva de Oliveira. A prisão do oficial provocou a demissão do comandante-geral da Polícia Militar, Mário Sérgio Duarte, que havia indicado Oliveira para o comando de São Gonçalo.

O assassinato de Patrícia Acioli recolocou em pauta o envolvimento de agentes da lei com a criminalidade no estado do Rio de Janeiro, que, historicamente, viu envolvimento de policiais com grupos de extermínio, máfias de jogos ilegais, traficantes de drogas e milícias.

Milícias que motivaram um deputado estadual fluminense a deixar o país, por alguns dias, em novembro. Dizendo-se preocupado com sua própria segurança, Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, foi para a Europa, depois de receber seguidas ameaças de morte de integrantes desses grupos criminosos.

Freixo, que presidiu uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar as milícias fluminenses, em 2008, é conhecido por sua atuação parlamentar contra esses grupos paramilitares formados por policiais, que controlam comunidades carentes do Rio, por meio da exploração de atividades ilegais e da extorsão a moradores. Apenas em outubro, ele recebeu sete ameaças de morte.

“Com relação às milícias, a política de segurança do Rio foi uma tragédia. As milícias cresceram e continuam sendo fortes. Eles mataram uma juíza, ameaçaram minha vida como parlamentar e hoje dominam mais de 300 áreas. Em 2008, quando fizemos a CPI, eram 170 áreas. Então, é o poder de uma máfia, em expansão, se consolidando”, disse Freixo.

Em fevereiro, a Polícia Federal já havia investigado supostas ligações de 32 policiais civis e militares fluminenses com máfias de jogos ilegais, milícias e traficantes de drogas. A chamada Operação Guilhotina levou à prisão agentes como o delegado Carlos Oliveira, que foi subchefe operacional da Polícia Civil, e provocou a demissão do então chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski. Os suspeitos acabaram sendo soltos dois meses depois, por decisão da Justiça.

A Secretaria de Segurança informou, por meio de nota, que colaborou com a Operação Guilhotina e que considera desvio de conduta “algo lamentável que sempre foi combatido e sempre será combatido por essa gestão da Secretaria”. Segundo a nota, essa má conduta é “pertinente a um pequeno grupo de pessoas” dentro das polícias.

Sobre a queda do coronel Mário Sérgio Duarte, a Secretaria elogiou o trabalho feito sob a gestão do ex-comandante da PM, dizendo que ele “teve participação decisiva em vários momentos em que a Polícia Militar precisou tomar decisões bastante importantes, como foi o caso do processo de retomada da região do Alemão”.

“Ele foi um homem honrado que fez uma opção e essa opção o levou a pedir para sair da Polícia Militar. Com isso ele reconheceu que o projeto que se tem hoje na Secretaria de Segurança está acima das pessoas e dos cargos”, informa a nota.

A Secretaria disse também que o processo de enfrentamento das milícias é diferente do enfrentamento ao tráfico, “porque o tráfico já é um crime previsto no código penal, enquanto que milícia não é uma atividade criminal tipificada na legislação brasileira. Portanto, a tecnologia, o processo de investigação e o procedimento de enfrentamento requer tentativas completamente diferentes.”

Por outro lado, 2011 também viu a ocupação de comunidades carentes pela polícia, para a instalação de unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e a consolidação do cinturão de segurança da zona sul, do Centro e da Tijuca. Entre as comunidades ocupadas neste ano, estiveram as favelas do São Carlos, da Mangueira, do Vidigal e da Rocinha.

A prisão de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, apontado como chefe da Rocinha, no dia 9 de novembro, e a subsequente ocupação da Rocinha pela polícia, quatro dias depois, foram apontados pelas autoridades públicas e pela imprensa como um marco histórico no combate ao tráfico de drogas no estado.

A ocupação da Rocinha, ocorrida um ano depois da ocupação do Complexo do Alemão, foi televisionada ao vivo e ganhou destaque em redes internacionais como a CNN e a BBC.

“Vejo como altamente positivo o trabalho do secretário de Segurança [José Mariano Beltrame], que tem um compromisso com a redução dos homicídios dolosos, com os autos de resistência. A ocupação de comunidades nesses últimos anos, especialmente em 2010 e 2011, as ocupações do Complexo do Alemão e da Rocinha, são grandes vitórias do estado. Ninguém pode deixar de reconhecer isso”, disse o presidente da organização não governamental (ONG) Rio de Paz, Antônio Carlos Costa.

*Reportagem publicada na Agência Brasil