Na lógica enviesada do policial, o morador estava se arriscando a levar um tiro da polícia porque o pedestal parecia um microfone.
À primeira vista, parece apenas um policial preocupado com um cidadão. Mas, refletindo-se um pouco mais profundamente, isso é sintoma de uma polícia que trabalha de forma errada e homicida.
O policial, em hipótese alguma, poderia atirar em alguém porque confundiu um pedestal com um fuzil. Policial não pode atirar em alguém apenas porque está com uma arma, sem que haja uma ameaça clara à sua vida ou à vida de terceiras pessoas, quem dirá atirar em alguém que está com um objeto que parece uma arma.
Policial também não pode atirar em ninguém que pareça suspeito, alguém que fuja de uma blitz ou em alguém que esteja cometendo um crime sem que esteja colocando a vida de ninguém em risco imediato.
Alguns dias depois, uma menina de 8 anos foi assassinada no Complexo do Alemão. Tudo indica que os policiais atiraram em uma moto com “suspeitos” (sob a alegação não sustentada até o momento de que foram alvejados) e o tiro foi parar numa Kombi e nas costas de uma criança.
Alguém aí percebeu como as duas coisas estão conectadas? O policial dizendo que o morador não pode andar com um pedestal e uma criança morta dentro de uma kombi?
Ambas são resultado de um modus operandi violento da polícia, que por sua vez é fruto de uma sociedade violenta e de um governador homicida (que manda policiais atirarem na cabecinha de pessoas).
Por mais que você esteja de saco cheio da violência, assim como eu e 99,99% dos brasileiros estão, não é assim que a violência será resolvida. Aliás, se você for sensato o suficiente verá que isso está apenas amplificando a violência, sem qualquer sinal de aplacá-la no futuro. Afinal, se o Estado não tivesse atirado para acertar um suposto bandido, a violência contra a criança do Complexo do Alemão, por exemplo, não teria ocorrido.
A menina foi morta, provavelmente pelo Estado. E os bandidos do Complexo do Alemão? Bem, esses continuam por lá, provavelmente com a anuência da corrupção estatal.