quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Governador tenta se isentar de responsabilidade sobre corrupção na polícia e diz que quem manda na segurança pública do Rio de Janeiro é o secretário

De todas as coisas absurdas que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse e fez na área de segurança pública (e não foram poucas), uma declaração dada hoje por ele foi, de longe, a que mais me chocou.

Em um evento hoje (16) na cidade do Rio (sim, de vez em quando Cabral visita a cidade do Rio), Sérgio Cabral foi abordado por uma ávida imprensa que queria saber o que ele tinha a dizer sobre os últimos acontecimentos envolvendo corrupção na cúpula da segurança pública fluminense.

Todos queriam saber o que ele tinha a dizer sobre o fato da Polícia Federal ter, em uma operação chamada Guilhotina, prendido vários policiais civis e militares envolvidos com o tráfico de drogas, desvio de armas para bandidos, milícias e o jogo do bicho. Entre os presos estão delegados e o ex-subchefe operacional da Polícia Civil (e ex-subsecretário de Ordem Pública da prefeitura de Eduardo Paes).

Todos queriam saber do governador, o que ele pensava sobre o fato de um delegado, que foi chefe da Polícia Civil de seu governo por alguns anos, estar sendo acusado de vazar informações da operação da PF para um dos policiais investigados.

Cabral gaguejou um pouco e, então, disse algo que jamais pensei que ouviria da autoridade máxima do estado do Rio (e comandante-em-chefe das polícias fluminenses): que ele não tem qualquer responsabilidade pelo que acontece na segurança pública no estado do Rio.

Parecendo ignorar a Constituição e as leis brasileiras, Cabral disse que seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, é o verdadeiro responsável por tudo o que acontece na área de segurança do estado.

“No Rio de Janeiro, política de segurança tem comando: chama-se José Mariano Beltrame. O governador ratifica a política. Eu avalizo a política de segurança pública do secretário Beltrame. Ponto. Todas as consequências devem ser tratadas pela autoridade da segurança pública”, disse Cabral, à imprensa.

Tudo bem, já vi Cabral fazer isso vários vezes. Já o vi se isentar de responsabilidade em mortes inocentes de crianças provocadas por policiais (“O policial que fez isso é um débil mental”, disse Cabral na época).

Já o vi também se isentar de responsabilidade em casos de balas perdidas provocadas por operações policiais desnecessárias.

E também já o vi se isentar de responsabilidade em casos de corrupção policial (E há muitos deles no estado do Rio de Janeiro).

E também já o vi, inúmeras vezes, dizer que não responde questões espinhosas sobre segurança pública, porque tem um secretário responsável pela pasta.

Mas nunca tinha ouvido Cabral se isentar de forma tão incisiva de responsabilidades pelo que dá errado em seu governo.

Espera aí, eu, como cidadão e contribuinte do estado do Rio de Janeiro (graças a Deus não fui eleitor de Sérgio Cabral. Nossa Senhora, como me orgulho disso), quero entender uma coisa.

Quer dizer que o senhor, excelentíssimo governador do estado do Rio de Janeiro, não responde pelo que dá errado na área de segurança? Não responde pela corrupção que atinge a cúpula de sua polícia?

Pelo que ouvi do governador, não. Para tudo o que é relativo a segurança no estado do Rio, Cabral vira uma figura decorativa, um simples bibelô, que não responde pelo seu governo.

Mas então quer dizer também que o senhor, Sérgio Cabral, não responde pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP)? Não responde pela suposta queda da criminalidade no Rio de Janeiro? Não responde pela articulação com o governo federal para o uso das forças federais na segurança do estado?

Aaaaaaaaaahhhh... Assim também não. Quem já ouviu os discursos do governador, sabe que ele diz ser o grande articulador do sucesso da segurança pública no Rio de Janeiro. Para o povão e para a imprensa, Cabral é “o cara” que tornou isso possível, graças a sua (suposta) força de vontade, (suposta) isenção política e (suposta) capacidade de unir forças com outros entes federativos.

Adivinhem quem se elegeu graças a sua (suposta) iniciativa de criação das UPP? Quem não perde uma inauguração de UPP e colhe os louros disso? Quem será que passa por cima do secretário de segurança e sempre anuncia com antecedência a instalação de UPP em favelas?

Acertou quem disse Sérgio Cabral.

Ué, mas tenho mais uma dúvida. Se Cabral não é responsável por nada o que acontece na área de segurança pública, porque ele lucra tanto com o sucesso das UPP? Por que ele atropela a decisão estratégica do “comandante” Beltrame de não anunciar novas UPP e as anuncia antes de todo mundo?

Parece que, para Cabral, há duas seguranças públicas. Aquela que supostamente dá certo (e rende votos) e sobre a qual o governador é o grande responsável. E há aquela segurança pública em que grassa a corrupção, a brutalidade policial, as operações desastrosas e inúteis e as mortes de cidadãos, sobre a qual o governador diz não ter qualquer responsabilidade.

Bem... Acredite no governador quem quiser...

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