sexta-feira, 3 de abril de 2015

Menino de dez anos morre no Alemão: UPP se transforma em um espetáculo repulsivo que ninguém mais quer assistir

Meu dia hoje começou de um modo repulsivo. Abri meu facebook e vi o vídeo de uma criança de dez anos assassinada pelo Estado no Complexo do Alemão. O mal estar que eu senti é indescritível. Não consegui sequer imaginar o que sentiram os pais desse menino.

A criança foi morta para que o governo mantenha sua chamada política de “pacificação”. Uma política que já nasceu predestinada a dar errado. Uma política que nasceu em 2008 propagandeando-se como a aposta numa polícia comunitária, de proximidade, apesar de nunca ter conseguido ser mais do que a versão tosca de uma ocupação territorial militar.

As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) tornaram-se uma marca publicitária de altíssimo valor. Mas nunca foram mais do que isso. Renderam bons frutos eleitorais para os políticos que se apropriaram dela, mas nunca rendeu mais do que lapsos de esperança numa população que acreditou em mais uma falsa promessa governamental.

A promessa de paz nunca chegou a ser concretizada na maioria das favelas onde as UPPs foram instaladas. A “pacificação” nunca passou de um teatro mal encenado, protagonizado por canastrões de terno e coadjuvantes vestidos de fardas azuis (e pretas; e até verde-oliva).

Um teatro reencenado dezenas de vezes com histriônicas cenas da entrada de blindados e do hasteamento da bandeira nacional nessas favelas. Uma superprodução envolvendo centenas de milhares de figurantes que tiveram que ceder suas ruas, casas e campos de futebol.

O problema é que foi um teatro produzido com vistas a uma audiência moradora de prédios (de médio e alto padrão) e de condomínios fechados. Mas foi tão bem produzido, que chegou a enganar os figurantes (os moradores das favelas) que chegaram a acreditar que aquilo tudo era de verdade e não uma versão iraquiana do Projac.

Sem receber previamente o roteiro e sem saber do funesto final que os aguardava no final da peça teatral, os figurantes aplaudiram junto com a plateia, deram entrevistas para a imprensa dizendo que seu futuro melhoraria dali por diante, que a paz finalmente chegara a suas comunidades e suas casas.

Mas foi aí que a peça teatral começou a ficar estranha. Outros figurantes que tinham sido eliminados do roteiro voltaram reivindicando seus direitos de participar da encenação. E eles vieram armados de fuzis. E as balas não eram de festim.

E os coadjuvantes de farda tampouco usavam balas de festim. O roteiro começou a fugir do controle de seus diretores. E os atores começaram a se enfrentar. O sangue começou a jorrar de verdade.

No início, os canastrões de terno disseram que tudo bem, isso fazia parte do roteiro. Afinal, a peça era sobre uma redenção histórica. O enredo envolvia a reconquista de territórios há décadas controlados pelo mal. E logo tudo ficaria bem.

Mas não ficou. E a peça se transformou num caos completo. Os diretores, atores canastrões e coadjuvantes fardados não conseguiam mais seguir o roteiro. E os figurantes começaram a ficar impacientes.

E, de repente, a audiência começou a achar tudo muito sangrento. Aquele épico de ação e redenção histórica havia se transformado em um daqueles western violentos que todos se cansaram de ver. E a imprensa passou a fazer críticas negativas sobre o enredo.

Então, os diretores começaram a ficar desesperados. “Ou a pacificação dá certo. Ou vamos todos para o buraco”. Disse um dos coadjuvantes.

Leitores do blog, precisamos dizer para esse coadjuvante que nós já estamos no buraco. Na verdade nunca saímos, não é mesmo Amarildo? Não é mesmo Claudia? O senhor só está querendo salvar os diretores desse desastre teatral.

Senhor fardado, essa peça até chegou a criar um climax, nos seus dois primeiros anos. Mas depois tornou-se chata. Violenta demais.

A audiência não quer mais peças de teatro. A gente queria que nossa polícia fosse usada para fazer alguma coisa de verdade. Esse bangue-bangue já saiu muito caro para todos nós.


Vamos todos sair do teatro. Esses canastrões não merecem nossa audiência.