Os três policiais militares que entraram na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, e interromperam a chacina no último dia 7 foram promovidos hoje (12), por bravura, no Quartel-General da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Um dos policiais atirou em Wellington de Oliveira, que já havia baleado dezenas de alunos, e impediu que o atirador continuasse o massacre.
O terceiro-sargento Marcio Alves foi promovido a segundo-sargento, enquanto os cabos Denilson Francisco de Paula e Edinei Feliciano da Silva tornaram-se terceiros-sargentos. O sargento Alves lembrou as 12 crianças mortas e as que ficaram feridas no tiroteio.
“Eu preferia que as crianças estivessem vivas e eu não estivesse recebendo essa homenagem. Vou continuar meu trabalho nas ruas, que já venho fazendo há 18 anos. Vou continuar me dedicando 100% a essa profissão”, disse.
Segundo o sargento, antes do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, havia pelo menos seis anos que ele não disparava sua arma em serviço. “Nesse tempo, só atirei em treinamento”, afirmou o Alves, que já era terceiro-sargento há quatro anos.
Edinei Feliciano da Silva já está na polícia há 12 anos – os últimos três anos e meio como cabo. Já Denilson Francisco de Paula, que era cabo há apenas um ano, já está na Polícia Militar há nove anos.
A cerimônia de promoção por bravura dos três policiais contou com a presença do presidente da República em exercício, Michel Temer, além do governador fluminense, Sérgio Cabral, e do prefeito carioca, Eduardo Paes.
Em discurso durante a cerimônia, o comandante da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, disse que os policiais demonstraram coragem, profissionalismo e serenidade durante a ação em Realengo. O comandante citou o livro sagrado do islamismo, o Corão, como uma forma de afastar as ilações de que Wellington de Oliveira tenha cometido os assassinatos supostamente depois de se tornar muçulmano. Segundo o coronel, o Corão traz mensagens de tolerância e de amor às crianças.
*Reportagem publicada na Agência Brasil
terça-feira, 12 de abril de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
O massacre em Realengo e o direito de possuir uma arma de fogo: por uma rediscussão do comércio de armas no Brasil
Ao se analisar o atentado cometido pelo atirador Wellington de Oliveira na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, tem-se uma primeira impressão de que o caso não é um problema de segurança pública. Claro, não há como autoridades públicas de segurança e policiais evitarem que qualquer pessoa cometa um assassinato quando ela assim o desejar.
Não há como ter policiais onipresentes em todos os lugares da cidade, do estado, do país. Para conseguir isso, teríamos que ter, pelo menos, um policial acompanhando cada cidadão 24 horas por dia, o que exigiria que pelo menos 50% da população fossem policiais.
Essa impressão, no entanto, logo se desvanece quando vemos como o assassinato foi cometido. O assassino tinha dois revólveres (calibres .32 e .38) e possuía mais de 60 munições para perpetrar as mortes.
A pergunta que todos estão se fazendo nesse momento é: como o assassino conseguiu as armas? Especialistas entrevistados por emissoras de televisão e por jornais afirmam: como qualquer cidadão que queira ter acesso a uma arma, basta ter dinheiro e pagar.
As armas estão em todo lugar no Brasil. Armas compradas na década de 70, 80 e 90 continuam circulando entre nós. E, anualmente, mais de 100 mil novas armas, como revólveres e pistolas, entram nas ruas brasileiras, recém saídas das fábricas brasileiras principalmente.
Mais de 600 lojas estão autorizadas a vender armas hoje no país, segundo o Exército. Inclusive algumas que comprovadamente vendiam armas a bandidos, como comprovou em 2006 a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Armas da Câmara dos Deputados.
Em 2009, a indústria de armas do Brasil produziu mais de um milhão de peças, um recorde para a década. A verdade é que não há um controle efetivo desse comércio no país, por mais que o Exército diga que realiza milhares de vistorias anualmente.
No ano passado, fiz uma reportagem com a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército (DFPC). Um oficial do órgão me disse que, apenas em um ano, foram abertos mil processos por irregularidades (isso mesmo “MIL” processos) como a existência de estoques maiores do que os permitidos dentro das lojas.
Uma delegada da Polícia Federal foi entrevistada e disse que os dois sistemas responsáveis pelo controle do comércio de armas, o Sinarm (da PF) e o Sigma (do Exército), não dialogavam entre si.
Ela reclamou que o Exército não dava aos policiais federais acesso ao seu sistema, apesar de um decreto federal de 2004 (que regulamentava o Estatuto de 2003) determinar que a integração dos dois sistemas ocorresse até julho de 2005. E, cinco anos depois, nada.
O Exército é o responsável pelo controle das lojas, mas ninguém controla a saída da arma desse estabelecimento. O controle da Polícia Federal é simplesmente cartorial. Ela emite o documento que autoriza ao cidadão comprar a arma.
As lojas, teoricamente, só podem vender a arma se o cidadão apresentar o documento da PF ou do Exército, mas não há uma garantia real de que a loja procederá dessa forma.
Os carregamentos de armas que saem das fábricas não são escoltados pelas autoridades competentes. A escolta é responsabilidade da própria empresa. Não há controle efetivo sobre as exportações das armas. Cerca de 900 mil armas foram declaradas como “exportadas” pelas fábricas brasileiras somente em 2009. Quem garante que essas armas realmente saíram do país.
A CPI de 2006 mostrou que armas inicialmente destinadas à exportação ficavam aqui mesmo no Brasil. Apenas as guias de exportação dessas armas (o que é efetivamente fiscalizado pelo Exército) viajavam nos contêineres. As armas ficavam em solo brasileiro.
Apesar de tudo isso, no imaginário popular, o problema está apenas no tráfico internacional de armas, como se os bandidos se abastecessem só de AR-15s, M-16s, HKs, CZs, Norincos e Rugers que aparecem de vez em quando nas operações policiais. Como se os bandidos se abastecessem apenas de armas estrangeiras, enquanto que a indústria nacional e as lojas legalizadas servissem apenas para abastecerem os cidadãos de bem com armas para que eles se “defendam” dos bandidos.
Meus caros, o tráfico internacional de armas é um problema, sim. Mas um problema talvez ainda maior seja o tráfico doméstico de armas. A maioria das armas apreendidas com criminosos é de revólveres e pistolas. E a esmagadora maioria dessas armas é nacional, bem como as munições usadas nelas.
As armas nacionais, como se vê, são teoricamente reguladas pelo Exército e pela Polícia Federal. No entanto, essas mesmas armas pipocam nas mãos de criminosos e são usadas para os mais variados crimes. Como elas vão parar lá?
Bem, quem defendeu a continuidade do comércio de armas para civis no país, no referendo de 2005, deve saber me explicar.
Os defensores do comércio de armas (em geral, deputados linha-dura ou que recebem dinheiro da indústria de armas nas eleições) citam o seguinte argumento para defender o comércio de armas: os bandidos estão armados, então o cidadão “de bem” tem direito a possuir uma arma para defender sua família e sua propriedade.
Bem, os defensores do comércio de armas partem do pressuposto que é simples distinguir um “bandido” de um “cidadão de bem”, como se fossem duas categorias estáticas. Quem garante que um “cidadão de bem” não será um bandido no futuro? Eu não posso garantir. Os defensores das armas podem? A PF pode? Creio que não.
Os dois bandidos que venderam a arma a Wellington de Oliveira disseram que ele parecia ser um “cidadão de bem” e que jamais imaginavam que ele fosse se tornar um assassino em série. Bem, o fim da história todos conhecem.
Em segundo lugar, quem garante que o “cidadão de bem” cuidará bem de sua arma? Quem garante que ela não será roubada (tudo é roubado nesse país, por que não uma arma)? E quem garante que, quando o dono da arma morrer, seu filho ou genro ou esposa não venderá sua arma para um outro cidadão “não tão do bem assim”?
Em terceiro lugar: qual a definição de defesa da família e da propriedade? Todos nós temos a mesma percepção do conceito de “defesa da família”? Qual o limite entre a defesa pessoal e a violação da liberdade de um terceiro? Quando acaba a defesa pessoal e começa o ataque a outra pessoa?
Se eu acreditar que tenho mais direitos que o meu vizinho, posso usar minha arma para defender meus interesses, mesmo que isso fira os direitos do meu vizinho.
Numa briga de trânsito, se eu achar que vou levar uma porrada, saco minha arma e atiro covardemente no agressor. Numa briga de bar, a mesma coisa.
Se eu for um agressor doméstico e achar que minha mulher está passando dos limites, posso usar minha arma e dar um tiro nela para me defender? Se eu tiver bebido pinga além da conta, posso dar um tiro no outro bêbado do bar? Se um moleque pular meu muro para pegar a bola que caiu dentro do terreno, posso dar uns “tecos” nele? Se meu vizinho estiver com o som alto e não quiser baixar o volume, posso enchê-lo de tiros, em vez de chamar a polícia?
Se um mendigo se aproximar de mim para pedir dinheiro e eu achar que ele vai machucar meus filhos, posso sacar a arma e “passar o vagabundo”?
Bem, os defensores do direito ao uso de arma pelos cidadãos devem ter resposta para todas essas perguntas.
Ao dizer que o “cidadão de bem” (olha ele de novo aí) tem direito de se defender do bandido armado, os políticos defensores das armas ignoram duas coisas. A primeira é: de onde vem as armas usadas pelos bandidos? Essa é uma discussão que nenhum deles quer fazer. Para eles, os bandidos simplesmente devem estalar os dedos e, “plim”, uma arma aparece nas mãos deles. Como se elas não tivessem um dia, passado pelo mercado formal: seja pela indústria seja pelo próprio comércio (seja no Brasil, seja no exterior).
A segunda é: os políticos ignoram a existência da polícia, ao afirmar que o cidadão tem direito de se defender. Bem, pelo que me consta, a polícia existe para garantir um equilíbrio na sociedade e evitar que dois cidadãos armados resolvam suas desavenças a bala.
Se a polícia brasileira não funciona, por que então os políticos não discutem uma reforma dessa polícia? Não seria função dos nossos políticos fazer isso? Se eles acham que a polícia brasileira não serve para defender o cidadão, então que ela seja extinta e que cada cidadão ganhe uma arma do governo. Será que essa sociedade vai funcionar? Ou será que o caos vai se instalar?
Bem, os defensores do comércio de armas devem ter uma boa resposta para isso.
Enfim, precisamos rediscutir o comércio de armas no país e o tal “direito individual” do cidadão possuir uma arma. Precisamos também discutir o controle dos arsenais das polícias e das forças armadas, a fiscalização dos depósitos de armas apreendidas (por que elas não são destruídas?), a revenda de armas para criminosos por agentes da lei, o controle dos caçadores, atiradores e colecionadores de armas.
Precisamos discutir várias coisas. Mas não podemos fazer isso apenas quando acontece um desastre como o que aconteceu em Realengo. Precisamos discutir isso até que se acabe essa carnificina que existe no Brasil.
Não há como ter policiais onipresentes em todos os lugares da cidade, do estado, do país. Para conseguir isso, teríamos que ter, pelo menos, um policial acompanhando cada cidadão 24 horas por dia, o que exigiria que pelo menos 50% da população fossem policiais.
Essa impressão, no entanto, logo se desvanece quando vemos como o assassinato foi cometido. O assassino tinha dois revólveres (calibres .32 e .38) e possuía mais de 60 munições para perpetrar as mortes.
A pergunta que todos estão se fazendo nesse momento é: como o assassino conseguiu as armas? Especialistas entrevistados por emissoras de televisão e por jornais afirmam: como qualquer cidadão que queira ter acesso a uma arma, basta ter dinheiro e pagar.
As armas estão em todo lugar no Brasil. Armas compradas na década de 70, 80 e 90 continuam circulando entre nós. E, anualmente, mais de 100 mil novas armas, como revólveres e pistolas, entram nas ruas brasileiras, recém saídas das fábricas brasileiras principalmente.
Mais de 600 lojas estão autorizadas a vender armas hoje no país, segundo o Exército. Inclusive algumas que comprovadamente vendiam armas a bandidos, como comprovou em 2006 a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Armas da Câmara dos Deputados.
Em 2009, a indústria de armas do Brasil produziu mais de um milhão de peças, um recorde para a década. A verdade é que não há um controle efetivo desse comércio no país, por mais que o Exército diga que realiza milhares de vistorias anualmente.
No ano passado, fiz uma reportagem com a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército (DFPC). Um oficial do órgão me disse que, apenas em um ano, foram abertos mil processos por irregularidades (isso mesmo “MIL” processos) como a existência de estoques maiores do que os permitidos dentro das lojas.
Uma delegada da Polícia Federal foi entrevistada e disse que os dois sistemas responsáveis pelo controle do comércio de armas, o Sinarm (da PF) e o Sigma (do Exército), não dialogavam entre si.
Ela reclamou que o Exército não dava aos policiais federais acesso ao seu sistema, apesar de um decreto federal de 2004 (que regulamentava o Estatuto de 2003) determinar que a integração dos dois sistemas ocorresse até julho de 2005. E, cinco anos depois, nada.
O Exército é o responsável pelo controle das lojas, mas ninguém controla a saída da arma desse estabelecimento. O controle da Polícia Federal é simplesmente cartorial. Ela emite o documento que autoriza ao cidadão comprar a arma.
As lojas, teoricamente, só podem vender a arma se o cidadão apresentar o documento da PF ou do Exército, mas não há uma garantia real de que a loja procederá dessa forma.
Os carregamentos de armas que saem das fábricas não são escoltados pelas autoridades competentes. A escolta é responsabilidade da própria empresa. Não há controle efetivo sobre as exportações das armas. Cerca de 900 mil armas foram declaradas como “exportadas” pelas fábricas brasileiras somente em 2009. Quem garante que essas armas realmente saíram do país.
A CPI de 2006 mostrou que armas inicialmente destinadas à exportação ficavam aqui mesmo no Brasil. Apenas as guias de exportação dessas armas (o que é efetivamente fiscalizado pelo Exército) viajavam nos contêineres. As armas ficavam em solo brasileiro.
Apesar de tudo isso, no imaginário popular, o problema está apenas no tráfico internacional de armas, como se os bandidos se abastecessem só de AR-15s, M-16s, HKs, CZs, Norincos e Rugers que aparecem de vez em quando nas operações policiais. Como se os bandidos se abastecessem apenas de armas estrangeiras, enquanto que a indústria nacional e as lojas legalizadas servissem apenas para abastecerem os cidadãos de bem com armas para que eles se “defendam” dos bandidos.
Meus caros, o tráfico internacional de armas é um problema, sim. Mas um problema talvez ainda maior seja o tráfico doméstico de armas. A maioria das armas apreendidas com criminosos é de revólveres e pistolas. E a esmagadora maioria dessas armas é nacional, bem como as munições usadas nelas.
As armas nacionais, como se vê, são teoricamente reguladas pelo Exército e pela Polícia Federal. No entanto, essas mesmas armas pipocam nas mãos de criminosos e são usadas para os mais variados crimes. Como elas vão parar lá?
Bem, quem defendeu a continuidade do comércio de armas para civis no país, no referendo de 2005, deve saber me explicar.
Os defensores do comércio de armas (em geral, deputados linha-dura ou que recebem dinheiro da indústria de armas nas eleições) citam o seguinte argumento para defender o comércio de armas: os bandidos estão armados, então o cidadão “de bem” tem direito a possuir uma arma para defender sua família e sua propriedade.
Bem, os defensores do comércio de armas partem do pressuposto que é simples distinguir um “bandido” de um “cidadão de bem”, como se fossem duas categorias estáticas. Quem garante que um “cidadão de bem” não será um bandido no futuro? Eu não posso garantir. Os defensores das armas podem? A PF pode? Creio que não.
Os dois bandidos que venderam a arma a Wellington de Oliveira disseram que ele parecia ser um “cidadão de bem” e que jamais imaginavam que ele fosse se tornar um assassino em série. Bem, o fim da história todos conhecem.
Em segundo lugar, quem garante que o “cidadão de bem” cuidará bem de sua arma? Quem garante que ela não será roubada (tudo é roubado nesse país, por que não uma arma)? E quem garante que, quando o dono da arma morrer, seu filho ou genro ou esposa não venderá sua arma para um outro cidadão “não tão do bem assim”?
Em terceiro lugar: qual a definição de defesa da família e da propriedade? Todos nós temos a mesma percepção do conceito de “defesa da família”? Qual o limite entre a defesa pessoal e a violação da liberdade de um terceiro? Quando acaba a defesa pessoal e começa o ataque a outra pessoa?
Se eu acreditar que tenho mais direitos que o meu vizinho, posso usar minha arma para defender meus interesses, mesmo que isso fira os direitos do meu vizinho.
Numa briga de trânsito, se eu achar que vou levar uma porrada, saco minha arma e atiro covardemente no agressor. Numa briga de bar, a mesma coisa.
Se eu for um agressor doméstico e achar que minha mulher está passando dos limites, posso usar minha arma e dar um tiro nela para me defender? Se eu tiver bebido pinga além da conta, posso dar um tiro no outro bêbado do bar? Se um moleque pular meu muro para pegar a bola que caiu dentro do terreno, posso dar uns “tecos” nele? Se meu vizinho estiver com o som alto e não quiser baixar o volume, posso enchê-lo de tiros, em vez de chamar a polícia?
Se um mendigo se aproximar de mim para pedir dinheiro e eu achar que ele vai machucar meus filhos, posso sacar a arma e “passar o vagabundo”?
Bem, os defensores do direito ao uso de arma pelos cidadãos devem ter resposta para todas essas perguntas.
Ao dizer que o “cidadão de bem” (olha ele de novo aí) tem direito de se defender do bandido armado, os políticos defensores das armas ignoram duas coisas. A primeira é: de onde vem as armas usadas pelos bandidos? Essa é uma discussão que nenhum deles quer fazer. Para eles, os bandidos simplesmente devem estalar os dedos e, “plim”, uma arma aparece nas mãos deles. Como se elas não tivessem um dia, passado pelo mercado formal: seja pela indústria seja pelo próprio comércio (seja no Brasil, seja no exterior).
A segunda é: os políticos ignoram a existência da polícia, ao afirmar que o cidadão tem direito de se defender. Bem, pelo que me consta, a polícia existe para garantir um equilíbrio na sociedade e evitar que dois cidadãos armados resolvam suas desavenças a bala.
Se a polícia brasileira não funciona, por que então os políticos não discutem uma reforma dessa polícia? Não seria função dos nossos políticos fazer isso? Se eles acham que a polícia brasileira não serve para defender o cidadão, então que ela seja extinta e que cada cidadão ganhe uma arma do governo. Será que essa sociedade vai funcionar? Ou será que o caos vai se instalar?
Bem, os defensores do comércio de armas devem ter uma boa resposta para isso.
Enfim, precisamos rediscutir o comércio de armas no país e o tal “direito individual” do cidadão possuir uma arma. Precisamos também discutir o controle dos arsenais das polícias e das forças armadas, a fiscalização dos depósitos de armas apreendidas (por que elas não são destruídas?), a revenda de armas para criminosos por agentes da lei, o controle dos caçadores, atiradores e colecionadores de armas.
Precisamos discutir várias coisas. Mas não podemos fazer isso apenas quando acontece um desastre como o que aconteceu em Realengo. Precisamos discutir isso até que se acabe essa carnificina que existe no Brasil.
Ex-colega de atirador de Realengo diz que Wellington “vivia no mundo dele”
O atirador Wellington de Oliveira, que matou 12 crianças na última quinta-feira (7) na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, era um adolescente tranquilo e calado, que praticava esportes, jogava bem videogames e se vestia de uma forma diferente. A descrição é do ex-colega Everton José Ribeiro, de 23 anos.
Everton estudou com Wellington durante três anos, da 6ª série até a 8ª série do Ensino Fundamental, e lembra que o atirador era uma pessoa tranquila. "Ele era na dele. Não chamava ninguém para conversar, mas se você sentasse do lado ele conversava normal. Jogava bola com a gente, jogava handebol, praticava esporte. Depois que saía da atividade física, voltava para o lugar dele. Sentava, botava o walkman. Ele nem aparentava ser maluco. Ele aparentava só viver no mundo dele. Ninguém suspeitava que ele tivesse algum tipo de problema”, contou.
Everton diz que já frequentou a casa de Wellington e que o atirador era um bom jogador de videogame. O ex-colega lembra também que o assassino se vestia de forma diferente quando estudava na Escola Tasso da Silveira e que, por isso, era alvo da brincadeira de outros alunos.
“Ele tinha aquele jeito nerd de se arrumar. Usava meião até a canela, tênis Kichute, bermuda em cima do umbigo, óculos e pastinha do lado. Era assim que ele andava. E andava curvado, como uma pessoa que vivia só no mundo dele."
Segundo Everton, Wellington às vezes não ligava para as brincadeiras dos colegas e até ria de si mesmo. No entanto, ficava nervoso quando os xingamentos envolviam sua mãe. “Ele ria quando era zoado. Quando a gente zoava outros colegas ele ria. Mas tinha brincadeiras que ele não gostava. Tinham xingamentos que ele não gostava. Por exemplo, ele odiava quando xingavam a mãe dele. Não podia falar da mãe porque ele ficava extremamente nervoso."
Em relação às garotas, Everton disse que era muito difícil ver Wellington conversando com qualquer menina e que o atirador era também alvo de brincadeiras por parte delas. “As garotas zoavam pelo jeito dele se vestir. Diziam que ele era feio, mas ele nunca falou que tinha raiva de garotas."
Na última vez que encontrou o ex-colega, em 2007, em outra escola, Everton ficou surpreso quando Wellington disse que tinha repetido duas vezes no Ensino Médio. “Eu achei até impossível porque ele só tirava notas altas. Já achei meio estranho. Ele falou que estava passando por problemas. Ele disse que queria fazer um concurso para tentar ser militar ou alguma coisa nesse sentido."
Um ex-vizinho de Wellington, que não quis se identificar, diz que também frequentou a casa do atirador em Realengo porque era amigo de um irmão dele. Contou que Wellington era calado, andava cabisbaixo e poucas vezes aceitava jogar bola na rua. “Quando ele jogava, ficava só no gol."
*Reportagem publicada na Agência Brasil
Everton estudou com Wellington durante três anos, da 6ª série até a 8ª série do Ensino Fundamental, e lembra que o atirador era uma pessoa tranquila. "Ele era na dele. Não chamava ninguém para conversar, mas se você sentasse do lado ele conversava normal. Jogava bola com a gente, jogava handebol, praticava esporte. Depois que saía da atividade física, voltava para o lugar dele. Sentava, botava o walkman. Ele nem aparentava ser maluco. Ele aparentava só viver no mundo dele. Ninguém suspeitava que ele tivesse algum tipo de problema”, contou.
Everton diz que já frequentou a casa de Wellington e que o atirador era um bom jogador de videogame. O ex-colega lembra também que o assassino se vestia de forma diferente quando estudava na Escola Tasso da Silveira e que, por isso, era alvo da brincadeira de outros alunos.
“Ele tinha aquele jeito nerd de se arrumar. Usava meião até a canela, tênis Kichute, bermuda em cima do umbigo, óculos e pastinha do lado. Era assim que ele andava. E andava curvado, como uma pessoa que vivia só no mundo dele."
Segundo Everton, Wellington às vezes não ligava para as brincadeiras dos colegas e até ria de si mesmo. No entanto, ficava nervoso quando os xingamentos envolviam sua mãe. “Ele ria quando era zoado. Quando a gente zoava outros colegas ele ria. Mas tinha brincadeiras que ele não gostava. Tinham xingamentos que ele não gostava. Por exemplo, ele odiava quando xingavam a mãe dele. Não podia falar da mãe porque ele ficava extremamente nervoso."
Em relação às garotas, Everton disse que era muito difícil ver Wellington conversando com qualquer menina e que o atirador era também alvo de brincadeiras por parte delas. “As garotas zoavam pelo jeito dele se vestir. Diziam que ele era feio, mas ele nunca falou que tinha raiva de garotas."
Na última vez que encontrou o ex-colega, em 2007, em outra escola, Everton ficou surpreso quando Wellington disse que tinha repetido duas vezes no Ensino Médio. “Eu achei até impossível porque ele só tirava notas altas. Já achei meio estranho. Ele falou que estava passando por problemas. Ele disse que queria fazer um concurso para tentar ser militar ou alguma coisa nesse sentido."
Um ex-vizinho de Wellington, que não quis se identificar, diz que também frequentou a casa do atirador em Realengo porque era amigo de um irmão dele. Contou que Wellington era calado, andava cabisbaixo e poucas vezes aceitava jogar bola na rua. “Quando ele jogava, ficava só no gol."
*Reportagem publicada na Agência Brasil
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Cabral vende imagem de Rio sem violência nos EUA. Ao mesmo tempo, uma criança era assassinada durante operação policial em favela sem UPP
Enquanto o "governador" do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, viaja para os Estados Unidos para tentar convencer os empresários de lá de que o nosso estado é um mar de rosas (um Jardim do Éden tropical) e vender a imagem de que o Rio é um lugar liberto do crime pelo "milagre" das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), o RIO REAL continua pegando fogo.
Por mais que Cabral queira acabar com o crime através de uma lavagem cerebral na população, em vez de atacar verdadeiramente os problemas da segurança pública, o Rio de Janeiro continua teimando em ser um local violento.
"Em 2010, o número de homicídios foi o menor dos últimos 20 anos. A mesma tendência é observada nos indicadores de roubos de rua e de veículos, coroando o sucesso de nossa política de segurança. Mas o nosso maior avanço tem sido a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que nos têm permitido retomar territórios antes dominados por criminosos que subjugavam milhares de pessoas, impedindo o seu direito de ir e vir. A conquista da paz é a base para todas as outras conquistas", dizia o engravatado Cabral, aos investidores do Tio Sam, ontem (31/3) em um auditório climatizado e confortável, em Washington D.C.
Ao mesmo tempo em que Cabral cuspia seu discurso pronto (e repetitivo) sobre a reconquista do direito de ir e vir (bla bla bla), uma criança de cinco anos morria, depois de ser assassinada durante uma ação policial numa favela de Cordovil. Caíque da Mata dos Santos, de 5 anos, brincava na porta da casa da avó quando foi baleado e, se estivesse vivo, na plateia do auditório em D.C., certamente discordaria do governador. Caíque nasceu pouco antes de Cabral assumir o governo. Ele morreu sem saber o que é liberdade de ir e vir. E, possivelmente, foi morto pela mesma polícia que Cabral diz estar "libertando" a população das favelas.
No mesmo dia em que Cabral tentava criar nos EUA uma fictícia imagem do Rio, era veiculada uma denúncia de que policiais torturaram um cidadão dentro de uma delegacia em nobre bairro de Botafogo.
Na madrugada desse mesmo dia, um casal de namorados era executado por bandidos em Realengo (local que curiosamente possui uma favela com UPP), depois de uma das vítimas ser obrigada a participar de um assalto com seus algozes.
Enquanto Cabral curtia o clima ameno de primavera do nordeste dos Estados Unidos, ladrões faziam um arrastão no pacato bairro da Urca, na zona sul da cidade. No Morro do Jorge Turco, na zona norte, um dos 1.500 onde a polícia só entra depois de trocar tiro com bandidos, dois suspeitos eram mortos pela polícia. Um homem era encontrado morto no Centro da cidade.
Bem... Parece que o Rio não é bem essa maravilha que nosso amigo Cabral insiste em propagar... Mas você, que mora no Rio de Janeiro, já deve saber disso. Ou não?
Por mais que Cabral queira acabar com o crime através de uma lavagem cerebral na população, em vez de atacar verdadeiramente os problemas da segurança pública, o Rio de Janeiro continua teimando em ser um local violento.
"Em 2010, o número de homicídios foi o menor dos últimos 20 anos. A mesma tendência é observada nos indicadores de roubos de rua e de veículos, coroando o sucesso de nossa política de segurança. Mas o nosso maior avanço tem sido a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que nos têm permitido retomar territórios antes dominados por criminosos que subjugavam milhares de pessoas, impedindo o seu direito de ir e vir. A conquista da paz é a base para todas as outras conquistas", dizia o engravatado Cabral, aos investidores do Tio Sam, ontem (31/3) em um auditório climatizado e confortável, em Washington D.C.
Ao mesmo tempo em que Cabral cuspia seu discurso pronto (e repetitivo) sobre a reconquista do direito de ir e vir (bla bla bla), uma criança de cinco anos morria, depois de ser assassinada durante uma ação policial numa favela de Cordovil. Caíque da Mata dos Santos, de 5 anos, brincava na porta da casa da avó quando foi baleado e, se estivesse vivo, na plateia do auditório em D.C., certamente discordaria do governador. Caíque nasceu pouco antes de Cabral assumir o governo. Ele morreu sem saber o que é liberdade de ir e vir. E, possivelmente, foi morto pela mesma polícia que Cabral diz estar "libertando" a população das favelas.
No mesmo dia em que Cabral tentava criar nos EUA uma fictícia imagem do Rio, era veiculada uma denúncia de que policiais torturaram um cidadão dentro de uma delegacia em nobre bairro de Botafogo.
Na madrugada desse mesmo dia, um casal de namorados era executado por bandidos em Realengo (local que curiosamente possui uma favela com UPP), depois de uma das vítimas ser obrigada a participar de um assalto com seus algozes.
Enquanto Cabral curtia o clima ameno de primavera do nordeste dos Estados Unidos, ladrões faziam um arrastão no pacato bairro da Urca, na zona sul da cidade. No Morro do Jorge Turco, na zona norte, um dos 1.500 onde a polícia só entra depois de trocar tiro com bandidos, dois suspeitos eram mortos pela polícia. Um homem era encontrado morto no Centro da cidade.
Bem... Parece que o Rio não é bem essa maravilha que nosso amigo Cabral insiste em propagar... Mas você, que mora no Rio de Janeiro, já deve saber disso. Ou não?
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