Nas últimas semanas, temos visto uma grande quantidade de ocorrências criminais violentas nas comunidades "pacificadas" do Rio de Janeiro. Minha impressão é que, a cada dia que passa, os criminosos percebem que a polícia não tem (como provavelmente nunca teve) o controle efetivo das favelas e que, por isso, podem voltar a atuar da forma antiga, portando armas e ameaçando a vida dos moradores.
Bem, é o risco em se apostar numa política de segurança pública que tem a ocupação territorial militar como principal (por que não dizer ÚNICO?) componente.
Como eu sou, conhecidamente, um crítico dessa política publicitária do governo fluminense resolvi sistematizar essas ocorrências de violência em um post.
Meu objetivo é que você, leitor e cidadão, leia essa "cronologia de eventos" e reflita: afinal que grande diferença essa política trouxe para a vida dos cariocas? Antes de ler, tenha em mente que o governador Sérgio Cabral e o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, passaram dois anos e meio se gabando do fato de que as UPPs supostamente acabavam com a criminalidade armada dentro das favelas.
20 de agosto de 2011 - Ocorrências de tiroteios no Morro da Formiga e um assassinato ocorrido no dia 17 levam policiais da UPP e do Bope a realizar operações nessa comunidade e nas favelas do Turano e do Salgueiro. A polícia informou que o objetivo da ação era "prender BANDIDOS que estão AMEAÇANDO moradores" dessas favelas. O Turano e o Salgueiro foram ocupados em setembro de 2010 e a Formiga, em julho daquele ano.
18 de agosto de 2011 - Policiais trocam tiros com bandido no Morro do São Carlos, ocupado por uma UPP em maio deste ano.
17 de agosto - Homem é assassinado a tiros dentro de casa no Morro da Formiga.
15 de agosto de 2011 - Bandidos e policiais trocam tiros (à moda antiga) no Morro do São Carlos.
14 de agosto de 2011 - No Morro do Turano, policiais da UPP tentam resolver uma reclamação de som alto e se envolvem em confusão com moradores. Ao se recusar a interromper o baile funk, os participantes da festa recebem a polícia com garrafadas, pedradas e pauladas. Policiais respondem com armas não letais. O saldo: quatro feridos (entre eles três policiais) e 13 presos.
14 de agosto de 2011 - Taxista é assassinado a tiros, durante tentativa de assalto, em um dos acessos ao Morro da Baiana, no Complexo do Alemão. A favela ainda não tem UPP, mas o Exército ocupa a comunidade desde novembro de 2010. O governador Sérgio Cabral vem dizendo que a favela já está "livre de bandidos" desde o início da ocupação.
11 de agosto de 2011 - Policiais da UPP do Morro da Coroa, inaugurada em fevereiro deste ano, prendem QUATRO pessoas, com DUAS pistolas e DUAS granadas e drogas.
6 de agosto de 2011 - Policiais prendem homem armado com revólver num dos acessos ao Morro do Salgueiro.
6 de agosto de 2011 - Policiais prendem jovem de 16 anos com DUAS granadas no Morro da Coroa.
30 de julho de 2011 - No Morro da Mineira, ocupado em maio deste ano, uma jovem de 20 anos foi assassinada com um corte na garganta.
28 de julho de 2011 - Ex-líder comunitário é assassinado a tiros durante uma festa no Morro dos Macacos, ocupado desde novembro de 2010. A execução ocorreu próxima a sede da UPP na favela.
15 de julho de 2011 - Bandidos armados invadem e saqueiam sede de ONG dentro do Morro do Adeus, no Complexo do Alemão.
14 de julho de 2011 - Mulher é encontrada morta com um tiro no rosto, dentro da Cidade de Deus, favela ocupada por uma UPP desde fevereiro de 2009.
29 de junho de 2011 - Em entrevista à imprensa, o secretário Beltrame admite, pela primeira vez, que UPPs não estão conseguindo impedir a ação de homens armados dentro de favelas supostamente pacificadas.
27 de junho de 2011 - Dois mototaxistas são executados a tiros em um dos acessos ao Morro do Andaraí, por criminosos da favela. Segundo a polícia, a morte foi uma represália da quadrilha porque os dois (provavelmente confiando na eficácia das UPPs) se recusavam a pagar taxa imposta pelos criminosos. Ou seja, apesar da favela ter sido ocupada em julho de 2010 (ou seja, um ano antes), os criminosos ainda mantinham controle sobre moradores.
27 de junho de 2011 - Comandante das UPP, Robson Rodrigues, é a primeira autoridade a admitir que favelas "pacificadas" ainda têm pontos críticos, sobre os quais a polícia não consegue exercer controle e onde bandidos andam armados.
25 de junho de 2011 - Policiais da UPP do Morro da Coroa são feridos durante confronto armado com criminosos. Bandidos jogaram granada contra os PMs e trocaram tiros com os policiais.
12 de junho de 2011 - Policiais matam homem na comunidade do Pavão-Pavãozinho, ocupada por uma UPP desde dezembro de 2009. Polícia diz que homem era bandido, mas família diz que ele não era criminoso e foi executado pelos PMs.
3 de maio de 2011 - Reportagem da Folha de S.Paulo revela que policiais de UPP estão extorquindo moradores do Morro do Borel, ocupado desde junho de 2010, à moda das milícias.
Maio de 2011 - Família, ameaçada por criminosos do Complexo do Alemão, é obrigada a sair de sua casa com escolta policial. Duas semanas antes, um homem havia sido assassinado com 13 TIROS na favela Nova Brasília, no complexo.
7 de março de 2011 - Homem é morto pela polícia no Morro do Andaraí, supostamente depois de tentar jogar granada contra policiais da UPP.
22 de janeiro de 2011 - Homem é assassinado a tiros dentro da Cidade de Deus.
*post alterado às 7h35 de domingo (21/09/2011) para correção e acréscimo de informações
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Bom dia meu caro amigo sua informação é importantíssima e a divulgação desta desmascara um política de Segurança Pública irreal a qual nós que estamos lidando no dia a dia sabemos estarmos longe de uma solução, quando esta esteja sobre os pilares da politicagem e falta de planejamento e condições dignas de trabalho para o profissional de segurança.FÁBIO ANDRÉ DO NASCIMENTO,Especialista em Gerenciamento Crise.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Fábio. A ideia deste blog não é apresentar uma verdade absoluta, mas justamente ajudar a desconstruir as "verdades" apresentadas pelo governo pela imprensa. Tampouco meu objetivo aqui é destruir as UPPs, mas apenas mostrar que elas são MUITO MENOS do que nos apresenta o governo. Ou seja, quero mostrar que elas não são A RESPOSTA para a violência no estado e que têm eficácia muito limitada.
ResponderExcluirGostaria de ter acesso às fontes que vc consultou para a publicação "A verdade sobre a UPP: Um histórico dos registros de violência e de confrontos armados nas favelas "pacificadas". , de agosto de 2011, Pois estou escrevendo uma monografia sobre o assunto, abs!
ResponderExcluirOlá, Dario. Desculpa so ter respondido agora. Fiquei um pouco ausente desse blog, portanto so vi sua mensagem agora. As fontes sao noticias publicadas em sites noticiosos como O Globo ou G1. Abraco...
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