Bandidos continuam armados e matando moradores na favela apesar da “pacificação”
Reportagem muito boa publicada pelo Jornal O Dia, neste final de semana. A repórter Paula Sarapu (vencedora de prêmios como Tim Lopes e Vladimir Herzog) foi além do “oba-oba” que toma conta da imprensa e se aprofundou na questão da ocupação do Complexo do Alemão pelo Exército e pela polícia.
Segundo a reportagem, moradores dizem que ainda há muitos bandidos nas favelas, apesar da ocupação policial-militar e que esses mesmos criminosos estão matando pessoas com facas e pedaços de pau.
O mais impressionante, no entanto, é o fato do oficial de relações públicas da força militar, major Fabiano Carvalho, afirmar que QUASE TODAS AS NOITES nos últimos dias, os militares ouviram tiros (certamente disparados por bandidos dentro dos complexos de favelas).
“Nossa tropa escutava tiros quase todas as noites até a virada do ano e não eram tiros disparados por nós. Sabemos que ainda há muita gente por aí e a população se sente acuada [por bandidos]”, afirmou o major ao Jornal O Dia.
Há duas semanas, um homem foi encontrado morto com vários tiros numa rua de acesso à Vila Cruzeiro, uma das favelas que integram os complexos de favelas.
Pelo menos três assassinatos cometidos por bandidos da favela [digo isso para diferenciar dos assassinatos cometidos por bandidos fardados] e ocorridos dentro da comunidade, durante a ocupação, estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios.
Há também a informação, oriunda da própria polícia, de que o Complexo do Alemão tem um novo “chefe” (e ele não usa farda). Segundo a reportagem do Dia, um bandido já foi designado pela cúpula da facção criminosa que CONTROLA o Complexo do Alemão, para organizar as bocas-de-fumo da favela.
Isto significa que o tráfico de drogas na favela continua a funcionar de forma semi-organizada (isto é, de forma sistemática) no Complexo, apesar de nosso governador dizer que as favelas foram pacificadas.
Lembremos que os Complexos do Alemão e da Penha foram ocupados em novembro do ano passado por forças do Exército e da polícia. Pelo menos 2 mil militares e policiais ocupam neste momento os conjuntos de favelas da zona norte. Mais de 500 armas foram apreendidas. Toneladas de drogas também foram recolhidas.
Mesmo assim, bandidos continuam usando armas e vendendo drogas no território “pacificado”.
Os militares da chamada Força de Pacificação (que não tem nada a ver com a Força de Paz do Haiti, apesar da imprensa insistir nisso) devem permanecer na favela pelos próximos meses. O desejo do governador é que elas fiquem na favela até o final do ano, quando o governo do estado pretende implantar a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Alemão.
Venho insistindo há meses, que a manutenção da ocupação do Complexo do Alemão pelas forças de segurança não será uma tarefa fácil, por uma série de fatores. Repito: uma coisa é a polícia entrar na favela (nunca duvidei que ela fosse capaz disso), outra coisa é a polícia manter a ocupação dessa favela.
Se os 2 mil militares fortemente armados, organizados sob a mais estrita hierarquia militar, equipados com veículos blindados, não conseguem evitar que, poucos dias depois da ocupação, bandidos se rearticulem e voltem a promover atos de violência na favela, por que eu acreditaria que 2 mil policiais militares da UPP conseguiriam manter o local pacificado?
Tenhamos em mente que os 2 mil policiais não ficarão o tempo inteiro no conjunto de favelas. Eles serão divididos em turnos de 400 a 500 policiais.
Os Complexos do Alemão e da Penha não se parecem em nada com os terrenos já ocupados pela Polícia Militar no Rio de Janeiro. Os dois juntos, acredito, são o maior aglomerado de pessoas do estado do Rio. Quem já entrou lá (ou tentou circunavegá-las) sabe que aquilo é um mundo. Se você duvida, acesse o Google Maps e tente traçar o perímetro dos conjuntos de favelas.
Além do tamanho, eles representam um terreno hostil. É a primeira favela do subúrbio com tráfico de drogas a ser ocupada pela polícia. Próximas aos dois complexos existem inúmeras favelas ainda dominadas por criminosos, como Juramento, Engenho da Rainha, Manguinhos e Jacaré.
As ruas do seu entorno são mal iluminadas, mal policiadas e dão acesso a várias vias expressas, como a Linha Amarela, a Avenida Pastor Martin Luther King, a Rua Uranos, a Avenida Vicente de Carvalho, a Avenida dos Democráticos e, em última instância, a Avenida Brasil.
Tais características geográficas, por si só, nos fazem crer que a polícia terá um desafio enorme pela frente. Se, neste momento, ainda “fragilizados” pelo baque da ocupação do terreno e das apreensões pela polícia, os bandidos já estão retomando seus territórios dentro dos complexos de favelas, o que esperar de daqui a um ano, quando a maior parte das armas e drogas perdidas já terão sido recuperadas pela quadrilha.
Posso estar enganado, mas tudo leva a crer que os policiais não conseguirão ter o controle efetivo de todo o maciço do Alemão/Penha, o que abrirá brecha para a implantação de “focos de bandidos”, isto é, pedaços do território controlados por criminosos armados, que continuarão promovendo a violência e ameaçando a vida dos moradores desses locais.
Patrulhas policiais poderão virar alvos de ataques e escaramuças de bandidos do próprio Complexo ou de favelas vizinhas controladas pela mesma facção criminosa (Juramento, Engenho da Rainha, Manguinhos e Jacaré).
Com o foco voltado para a manutenção do controle do Complexo do Alemão, o 16o Batalhão poderá se descuidar das vias próximas ao conjunto de favelas (se é que o 16o algum dia cuidou dessas vias), o que permitirá a continuidade de ações criminosas como “bondes” e assaltos de rua.
O Complexo do Alemão, obviamente, deixará de ser o coração do Comando Vermelho, já que a existência de 400 a 500 policiais circulando pela favela modificará a comunidade. Os bandidos poderão continuar controlando espaços dentro da favela, mas não terão mais a liberdade que tinham para circular no complexo.
Isso, no entanto, não elimina o problema. A facção criminosa poderá tanto criar um novo quartel-general em outras áreas propícias, como Jacarezinho, Manguinhos e o Complexo da Maré, quanto fazer algo pior: diluir seu poder de fogo, criando vários destacamentos (ou pequenos quartéis-generais) pelo estado.
A segunda opção seria o pior dos mundos para a segurança pública do estado, já que criaria pequenos “complexos do alemão” e pequenas “faixas de gaza” por todo o estado.
Disse, logo depois da ocupação do Complexo do Alemão, que o baque causado pelas forças de segurança ao Comando Vermelho com a operação na favela poderia ser revertido pelos criminosos em um período de tempo relativamente curto (como os 11 meses de preparação para a instalação da UPP no local).
Nesses 11 meses, disse eu, na ocasião, os bandidos poderiam recuperar todas as drogas e armas perdidas para a polícia na ocupação do Alemão e continuar a realizar suas atividades criminosas.
Disse também que, por isso, seria preciso que as autoridades públicas do estado, fizessem operações semelhantes em todas as grandes favelas do estado do Rio de Janeiro, para causar um dano mais profundo às facções criminosas fluminenses.
Em vez de apreender 500 armas, seria preciso apreender 5 mil logo de uma vez. Em vez de apreender 30 toneladas de maconha, seria necessário apreender 300 toneladas. Em vez de 300 quilos de cocaína, cinco toneladas... E por aí vai.
Não vejo a polícia fazer isso. Não vejo resultados de investigações policiais que estejam levando ao enfraquecimento dos bandidos em outras favelas do estado.
E, se a polícia não fizer isso, repito, ela estará perdendo uma oportunidade de quebrar o pescoço do tráfico de drogas e estará dando um tempo para que esses bandidos se recuperem.
Continuo esperando para ver no que vai dar toda essa algazarra em torno da ocupação do Complexo do Alemão. Assim como também mantenho meu ceticismo quanto ao sucesso dela.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
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O COMPLEXO DO ALEMÃO ESTAR NOVAMENTE DOMINADO ESTAMOS A NECER DOS TRAFICANTES TODOS OS DIA APARECE CORPOS ESFAQUIADO DO COMPLEXO ,GROTA , NOVA BRASILIA ,E ATÉ MESMO NA RUA 2 AI EU PERGUNTO PQ ESSES COROS NÃO ESTAR SAINDO NADA NA TEWLEFIÇÃO E JORNAIS
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