O Exército, na verdade, já foi usado dezenas de vezes nos últimos 20 anos, sem muitos resultados práticos. Em geral, a força armada desfila com seus blindados, tanques de guerra e jovens recrutas com pouco ou nenhum preparo para a guerra (e com menos preparo ainda para atuar na segurança pública), mas não efetua prisões ou evita ações criminosas que ocorram a poucos metros de si.
Enfim, os militares servem muito ao espetáculo midiático, que adora ver carros de guerra circulando pelas ruas da cidade e militares camuflados posando com seus fuzis. Mas servem pouco à segurança pública.
O Exército sabe que não tem preparo para atuar como força de polícia e sabe que não fará qualquer diferença nesse caos que é a insegurança pública do Rio de Janeiro. Mas, por algum motivo, se deixa usar como peão nesse simulacro de "Jogos de Guerra".
Vejamos o que disse o comandante da 1a Divisão do Exército, general Mauro Sinott, acerca do uso do 1o Batalhão de Polícia do Exército nas operações da Rocinha.
"Vamos fazer um cerco à comunidade, ajudar no controle de trânsito e no controle do tráfego aéreo, a fim de liberar os
contingentes de polícia para ações mais
específicas de polícia".
Ajudar no controle de trânsito? Eu entendi bem? Vamos usar homens cuja função constitucional é garantir a defesa do país contra ataques de outros países para "controlar o trânsito". Bem, general, para isso já existe a CET-Rio.
Controlar o tráfego aéreo? Eu entendi bem de novo? Me desculpa, general, mas os bandidos não vão atacar ninguém usando helicópteros ou aviões de combate.
Liberar a polícia para fazer ações de polícia? Legal. E se o trabalho de polícia será feito pela polícia (o que inclui o cerco policial), o que sobra exatamente para o Exército fazer, além de aparecer nas câmeras de TV e apaziguar os falcões da imprensa?
A resposta é...
...nada.
É isso que o Exército fará na Rocinha. Nada.
Os militares não ajudarão a polícia. Eles não conhecem o terreno. Não estão autorizados a cumprir mandados de prisão. Não vão se envolver nos confrontos (os comandantes militares correm desse tipo de problema).
Eles serão, na verdade, uma preocupação a mais para a polícia. É mais uma cadeia de comando para dificultar as ações. Eles podem ser alvos de criminosos. E eles podem cometer violações de direitos constitucionais (já que eles não estão preparados para esse tipo de ação), algo que ocorreu em muitas das ações envolvendo as forças armadas em favelas.
O risco maior, no entanto, é a cortina de fumaça continuar na segurança pública. E os problemas reais serem, cada vez mais, jogados para debaixo do tapete, enquanto os verde-olivas posam para fotos e câmeras de TV.
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