quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cabral briga com os fatos e insiste que UPP vai chegar em todo o estado

Mas o governador omite o fato de que unidades de polícia pacificadora não vão chegar nem a 10% das mais de mil favelas controladas por bandidos no estado


Talvez por conta de um desespero pré-eleitoral, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, tem tido o costume de brigar com os fatos, quando se trata das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Através de seu discurso, Cabral tem tentado mostrar que as UPP seriam “mais” do que elas realmente são.

Hoje, em um evento na Ilha do Fundão, o governador disse que as UPP chegarão a todos os cantos do estado que forem ocupados por um “poder paralelo”, de “Varre-e-Sai a Parati”.

Eu, que estava fazendo a cobertura do evento, interpelei o governador, perguntando como ele iria ocupar as mais de mil favelas controladas por gangues no Rio (algo, a meu ver, inviável). Sem responder à minha pergunta, Cabral continuou insistindo que as UPP vão chegar a todas as favelas controladas por quadrilhas armadas.

Não perguntei mais nada, porque tive certeza de que o nosso governador vive em um mundo fantasioso, onde suas versões valem mais do que os fatos. Depois, fiquei comigo mesmo pensando: ou Cabral quer ocultar a verdade da população ou ele desconhece a estratégia de implantação das UPP no Rio de Janeiro.

A estratégia de expansão das UPP é, na verdade, muito menos cor-de-rosa do que quer fazer crer Sérgio Cabral. Segundo a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, a polícia pacificadora não vai chegar a todas as favelas. Só isso já contraria o governador.

Inicialmente, o planejamento das unidades de polícia pacificadora só previa 100 favelas até 2016 (ano em que se encerra o planejamento estratégico da Secretaria). Depois, a Secretaria acabou aumentando esse número para 120 (acredito eu desmembrando algumas favelas em microcomunidades, como é o caso da Providência, que virou três favelas para efeitos de UPP).

Bom, segundo um estudo divulgado recentemente pelo Núcleo de Estudos da Violência da Uerj, existem, somente na cidade do Rio de Janeiro, mais de 900 favelas controladas por grupos armados. Se formos contabilizar as favelas da Baixada, Niterói, São Gonçalo e outras cidades medias como Macaé, Angra dos Reis, Volta Redonda, Teresópolis e Cabo Frio, esse número sobe tranquilamente para 1.500...

Então, ensinemos nosso governador a calcular: 1.500 menos 120 é igual a: 1.380... Isto mesmo, 1.380 favelas controladas por grupos armados que não contarão com Unidades de Polícia Pacificadora.

Logo, governador, atenha-se aos fatos e reconheça, em público, as limitações de sua principal (se não única) política de segurança. Ou será que o senhor teme que a população conheça a verdade sobre as UPP?

E mais, por que o senhor não assume que as Unidades de Polícia Pacificadora não chegarão neste ano (talvez nem no ano que vem, nem em 2016) a favelas problemáticas do subúrbio, como o Complexo do Alemão? Aliás, já foi divulgado, por mim e pela imprensa, que nenhuma (isso mesmo, nenhuma) favela do subúrbio receberá uma UPP nova neste ano.

Por que o senhor, governador, não joga limpo com a população fluminense, e diz, com todas as letras que, com exceção da favela do Batam, todas as unidades pacificadoras já instaladas ou planejadas para este ano ficam nas zonas mais ricas (e menos violentas) da cidade? Zona sul, Barra, Tijuca e Centro (por onde os ricos também circulam)?

Ao invés disso, Cabral insiste na história da carochinha de que a UPP é uma política democrática, que beneficiará toda a população carioca.

E mais, Cabral também continua a divulgar mais um conto do vigário: de que a instalação do Batalhão de Operações Especiais num quartel entre a Maré e as comunidades de Ramos trará mais segurança para a área.

Já disse e vou repetir (quem quiser ler mais sobre o novo quartel do Bope na Maré tem um post escrito em maio sobre isso), ao contrário do que diz Cabral, o quartel do Bope não conseguirá, por si só, pacificar a Maré (talvez o consiga em Ramos, porque lá é ocupado por milícias de policiais).

Para mim, a instalação do quartel do Bope na Maré cheira a uma artimanha para não precisar instalar, tão cedo, uma UPP no Complexo da Maré (um dos maiores vespeiros que existem no Rio).

Enfim, em vez de ocultar a verdade sob versões truncadas da realidade, Cabral precisa abrir o jogo com a população e reconhecer as limitações das unidades de política pacificadora. Não custa nada ser honesto com os cidadãos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário