Nesta semana, o governo do Rio de Janeiro inaugurou a nova sede da Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso. Até aí, tudo bem. Seria apenas uma iniciativa das autoridades públicas para aumentar a segurança de um segmento populacional muito mal tratado no Brasil, não fosse por um pequeno detalhe.
O local escolhido para a instalação da delegacia especializada foi a zona sul da cidade do Rio de Janeiro, a área da cidade que menos precisa de políticas públicas e que, contraditoriamente, é sempre a primeira a receber essas políticas.
A Delegacia localiza-se no bairro de Copacabana. Podem até argumentar que Copacabana é o bairro com maior percentual de idosos do estado. Sim, correto.
Mas há várias regiões do Rio de Janeiro que têm mais idosos do que o abastado bairro da zona sul e que, provavelmente, precisam mais de uma delegacia como essa do que Copacabana.
Um deles é Campo Grande, o bairro da zona oeste da cidade, que concentra a maior população absoluta de idosos da cidade do Rio de Janeiro, mas que não foi agraciado com a especializada.
Na verdade, esse texto não se trata da Delegacia de Idosos da Polícia Civil fluminense, mas sim das políticas públicas seletivas/exclusivas que vêm sendo adotadas há anos no estado e que priorizam sempre as áreas mais nobres da cidade (zona sul, Barra e até Tijuca), em detrimento das áreas mais carentes (que costumam necessitar mais do Poder Público).
Políticas essas que continuam sendo adotadas pelo atual governo (e que provavelmente continuarão sendo adotadas pelos próximos se a mentalidade da sociedade não mudar).
A Delegacia do Idoso é apenas um dos vários exemplos de política seletiva do atual governo. Listo a seguir outros exemplos de política restrita às zonas nobres da cidade:
Operações de Choque de Ordem – As operações de choque de ordem, que visam reduzir a desordem urbana, foram realizadas durante dois anos exclusivamente nos bairros de Copacabana e Ipanema, através dos projetos CopaBacana e IpaBacana. Depois, o choque de ordem passou a ser realizado pela prefeitura.
Unidades de Polícia Pacificadora – As festejadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) começaram a ser instaladas nas favelas da zona sul (Copacabana, Ipanema e Botafogo), da Barra/Jacarepaguá (Cidade de Deus), Tijuca e Centro. E a ideia da Secretaria de Segurança é manter, pelo menos neste ano eleitoral, a política restrita a essas áreas. A favela do Batan, em Realengo, foi a única fora do eixo zona sul/Barra/Centro/Tijuca a receber uma UPP. A meu ver, a ocupação do Batan se deveu mais a uma continuidade natural do trabalho de desarticulação da milícia da favela (por causa do caso da tortura à equipe do Jornal O Dia) do que propriamente uma ação pensada da Secretaria.
Delegacia de Dedicação Integral ao Cidadão (Dedic) – O projeto foi criado neste ano, com o objetivo agilizar e melhorar o atendimento ao cidadão através do registro de ocorrências online e delivery (em que o policial vai à casa do cidadão). O projeto, como sempre, deu preferência às áreas mais nobres do estado. Em vez de Penha, Madureira, Duque de Caxias, Bonsucesso e outras áreas mais violentas da cidade, a Polícia Civil optou por começar o projeto pelas delegacias de Copacabana, Leblon, Gávea, Barra da Tijuca, Tijuca e Icaraí (área nobre de Niterói). Campo Grande também participa do projeto, mas é o único representante dos bairros mais carentes no Dedic.
Operação Bairro Seguro - A iniciativa da Polícia Militar prevê a intensificação do patrulhamento de rua, através do policiamento a pé com duplas de policiais e com cães farejadores em áreas de maior ocorrência de assaltos. A iniciativa atinge apenas oito bairros da zona sul.
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