quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Rio termina primeiro semestre com redução "MILAGROSA" nos principais crimes (Será que devo acreditar nisso???)

A Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro divulgou ontem (4) as estatísticas de criminalidade do primeiro semestre deste ano. Nada de novo. O semestre fechou com as mesmas “reduções espetaculares” nas ocorrências criminais que vinha apresentando, mês a mês, desde julho do ano passado.

Quem acompanha meu blog e meu twitter já deve conhecer meu posicionamento sobre essas “milagrosas quedas” nos registros criminais que vêm sendo apresentadas há um ano. Em todas minhas opiniões sobre o tema nos últimos seis meses, expressei um profundo ceticismo quanto à credibilidade de tais indicadores, por uma série de motivos (para conhecê-los, leia os posts anteriores desse blog).

No entanto, esse texto vem apresentar uma novidade em relação aos textos anteriores que escrevi sobre o assunto. Resolvi que, a partir de agora, não vou mais desconfiar desses dados da Secretaria de Segurança e nem dizer que eles apresentam fortes indícios de manipulação.

Resolvi não mais desconfiar dos dados porque, apesar dos indícios de “fraude” nos dados, não tenho como comprovar nada. E as pessoas que têm como provar a manipulação dos dados dentro das delegacias e dentro da Secretaria de Segurança (note que estou ignorando o Instituto de Segurança Pública porque, para mim, ele é apenas um departamento sem autonomia dentro da Secretaria) não estão fazendo seu trabalho.

O Ministério Público, por exemplo, tem, entre suas funções constitucionais, defender o interesse da população e fiscalizar o trabalho da polícia. No entanto, em nenhum momento, apesar dos indícios de manipulação dos dados, os promotores de Justiça do Rio de Janeiro se coçaram para auditar os registros policiais das delegacias fluminenses ou os dados da Secretaria de Segurança.

A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que também tem entre suas funções constitucionais defender os interesses da população e fiscalizar as ações do governo do estado, tampouco se coçou para fazer qualquer auditoria nesses dados.

Um dos poucos deputados de oposição ao governo chegou até a tentar fazer alguma coisa para forçar a Alerj a investigar os dados de criminalidade do Rio de Janeiro, na chamada CPI do ISP. Mas, em uma casa controlada pelos 547 partidos que têm coligação com o governador Sérgio Cabral, a CPI não chegou a sair do papel (obs: É claro que não existem 547 partidos. Este é apenas um número exagerado para mostrar que Cabral têm coligação com quase todos os partidos registrados no TSE).

Enfim, se os instrumentos legais existentes (os quais eu e todos vocês mantemos com nossos impostos) não quiseram ter o trabalho (ou que não quiseram se indispor com o governador) para descobrir as possíveis falcatruas existentes nos indicadores de criminalidade do Rio de Janeiro, não serei eu, um pobre jornalista e servidor público, que insistirei na tese da manipulação.

A partir de agora, decidi acreditar cegamente nos dados que a Secretaria de Segurança nos empurrar goela abaixo. Resolvi também acreditar em toda notícia que ler em nossa imparcial e combativa imprensa diária carioca (leia-se O Globo, O Dia, TV Globo etc etc).

Nessa minha onda de conformismo, resolvi também acreditar que o América será campeão mundial, que vivemos numa democracia, que o Papai Papudo não morreu, que o Serguei realmente namorou a Janis Joplin e que o Coelhinho da Páscoa realmente bota ovo de chocolate (mas isso é uma história para outros posts).

Enfim, resolvi acreditar que o Rio de Janeiro está 20% menos violento do que estava no primeiro semestre do ano passado, que suas chances de ser assaltado nas ruas é 14% menor e que a probabilidade de seu carro ser roubado no estado diminuiu 23% (apesar dos preços de seguros dos automóveis continuarem tão ou mais altos quanto no ano passado).

Mas agora que eu acredito nos números que a Secretaria de Segurança está divulgando, exijo uma explicação. Exijo uma explicação clara sobre como as autoridades públicas do Rio de Janeiro conseguiram uma redução tão espetacular nesses indicadores criminais.

Eu, como cidadão do Rio de Janeiro, quero saber o que a polícia está fazendo para conseguir operar esse milagre (bem, não é tão milagre assim, porque mesmo com uma redução de 20%, o Rio ainda tem mais do que o dobro de homicídios que São Paulo, por exemplo).

Um milagre como esse precisa ser estudado por todos que estudam a segurança pública no Brasil e no mundo. O “sucesso” das políticas públicas de segurança do Rio de Janeiro precisa ser analisado para que possa ser implantado em outros estados brasileiros, como Espírito Santo, Pernambuco e Alagoas. Pode até ser útil para locais como a Colômbia, o México, a África do Sul ou até a Somália.

Mas quero uma explicação decente. Dizer que a implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (na zona sul, na Providência e no Borel) reduziu os homicídios na Penha, em Rocha Miranda e em Duque de Caxias é conversa para boi dormir, secretário José Mariano Beltrame.

Também dizer que a redução dos homicídios que supostamente acontece de “forma vertiginosa” desde julho de 2009 é obra da Nova Delegacia de Homicídios (QUE SÓ FOI CRIADA SEIS MESES DEPOIS, EM JANEIRO DE 2010) também é brincar com a inteligência do cidadão, não é não, Seu Beltrame?

Essas, pelo menos, foram as explicações que o senhor José Mariano Beltrame deu na coletiva de ontem (a qual não pude comparecer, porque trabalhei no turno da manhã. Mas li a explicação no Jornal O Dia).

Bem, talvez a queda vertiginosa de crimes nada tenha a ver com estratégias pensadas pela Secretaria de Segurança do Rio e seja apenas um período transitório de “falsa tranqüilidade” (de pouca atividade das quadrilhas e de menos violência dos criminosos). Algo que independe da vontade das nossas autoridades públicas.
Mas, se for realmente isso, nosso secretário de Segurança jamais assumirá. Principalmente porque seu chefe (Don Cabral de La Mancha) tentará, nos próximos meses, garantir seu emprego pelos próximos quatro anos (aliás, pelos próximos três anos e quatro meses, já que, em 2014, ele provavelmente tentará a Presidência ou o Senado novamente).

Beltrame preferirá insistir na tese de que um posto de policiamento comunitária no Dona Marta, no bairro de Botafogo, foi responsável por reduzir os assassinatos no município de Duque de Caxias (Telepatia criminal??? Um policial da UPP de Botafogo consegue impedir um crime a 20 km de distância??? Será???). Ou então, na tese de que uma delegacia de homicídios conseguiu evitar crimes seis meses antes de sua própria existência (um caso para “Além da Imaginação”).

De qualquer forma, espero uma explicação das nossas autoridades de segurança. Até porque eu, que sempre critiquei a política de segurança de Sérgio Cabral, estou muito curioso.

6 comentários:

  1. Caro Vitor, sou moradora do morro Dona Marta e posso afirmar que pelo manos aqui nas redondezas a criminalidade caiu consideravelmente. Graças a essa política de segurança publica em que você não acredita, hoje podemos andar tranquilamente na comunidade, não vemos exterminio de X9 nem de alemão feitas antigamente pelos traficantes bem de baixo do nariz. Ninguém fez o que Cabral tem feito. Eu prefiro ter 20% do que nada como nos governos anteriores.

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  2. Ola, giselle... Em primeiro lugar, obrigado por visitar o blog... Mas receio que vc não tenha entendido minhas criticas a politica de seguranca de Don Cabral... Sugiro que voce leia os demais posts do blog sobre Cabral, criminalidade no Rio e UPPs...

    Mas brevemente vou te explicar aqui no que eu creio:
    - A politica de UPP so traz beneficio (ainda assim com um alcance restrito) aos moradores de comunidades atendidos por essas unidades (e aos moradores do entorno)...

    - Uma UPP na zona sul nao eh capaz de reduzir a criminalidade no Alemao, na zona oeste, na Baixada, em Niteroi, na Serra, em Campos, em Cabo Frio etc...

    - Sou contrario as UPP justamente porque elas so beneficiam uma meia duzia de comunidades, enquanto a esmagadora maioria da populacao continua morando em favelas sob o jugo de bandidos e sob a violencia da policia

    - Voce elogia a UPP (e esta certa em elogiar, sob um ponto de vista individual) porque você faz parte de uma minoria atendida por essa politica seletiva. Vc acredita que, se voce morasse no Complexo da Mare teria sentido alguma diferenca entre a politica de seguranca de Cabral e a politica de seguranca dos ultimos cinco governadores? Aposto que não...

    - De resto, sugiro que leia o resto do meu blog... Nao se trata aqui de criticar Cabral, ou quem quer que seja... Sou um cara apartidario... Pra você ter uma nocao, muitas vezes eu voto nulo pq nao vejo um candidato digno de me representar (entre todos os partidos existentes). Critico apenas sua politica de seguranca, que, fora a UPP, nao trouxe nada de novo...

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  3. Fala Vítor!

    Faz tempo que te acompanho, desde o dia que comentou de seu blog aqui em casa (no dia dos problemas e soluções daquele livro). Nunca lembro de te falar pessoalmente. Gostei do Post, também compartilho dessa visão crítica. Apesar de apoiar as UPPs, essas pesquisas nunca me cheiram bem.

    Abço
    Daniel

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  4. Fala, Daniel... Eu concordo com o conceito de policia comunitaria, so acho que elas sao uma politica seletiva por ser impossivel atender a toda a populacao que necessita dela. Essa eh minha principal critica...

    Abraco pra vc e pra todos ai...

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  5. Pena nem todos verem que tudo o que vêem e ouvem é 99,9% mentira. O povo ainda acredita nos politicos, nas notícias e nos dados que ninguém sabe de fato de onde surgiram. A mídia e o governo estão totalmente unidos para que as coisas continuem como estão, quanto pó de arroz eles usam para tentar esconder que nada vai mudar.

    O governo é corrupto, o Cabral só quer continuar onde está e aproveitou a situação catastrófica da nossa segurança pública para sua empreitada rumo a presidência. Será que é tão difícil perceber isso?

    O Rio de Janeiro continua violento, os bandidos continuam "a tocar o terror" no Estado, de dentro e fora das prisões, e principalmente de dentro dos gabinetes e escritórios.

    UPP? Na minha opinão, algo que poderá de fato ajudar a reduzir a violência, mas o sentimento que tenho é que não passa de um grande acordo entre duas grandes instituições, de um lado, o Governo que não investe em educação, por outro lado inventa UPA, sigla que não passa de maquiagem para "NÃO CONSIGO RESOLVER O PROBLEMA DA SAÚDE".
    Do outro, os traficantes, pessoas sem rumo, tão pobres e tão ricos ao mesmo tempo, iludidos, fazendo exatamente o que os "mais $capacitado$" desejam. Eles não são os verdadeiros culpados, sem o básico da educação, cultura e lazer, são motivados pelo instinto de sobrevivência a optar pelo crime como um meio de "ganha pão".

    O pouco incentivo a cultura e a educação é que contribue para que a grande maioria dos eleitores continuem ignorantes, votando em quem a mídia mostra (tentando nos enganar) que está fazendo algo para reverter essa situação.

    http://www.youtube.com/watch?v=dAQkMjebkeA

    MENTIRA, MENTIRA, MENTIRA.

    Sonho com o 5 de novembro de Guy Fawkes.

    Parábens pelo Blog.

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