sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ocupação anunciada da Mangueira: Mais um espetáculo político desnecessário e caro do governo do Rio

O Morro da Mangueira será ocupado neste domingo pela polícia para a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade. A ocupação, que contará com o apoio da Marinha, vem sendo anunciada há semanas pelo governo do Rio

Trata-se de um repeteco do que vem acontecendo nas instalações de UPP: o governo do Rio anuncia a ocupação, convoca a população para o espetáculo, deixa os bandidos e as armas se transferirem para outro lugar e depois ocupa triunfalmente o espaço.

A instalação da UPP era dada como certa já há alguns meses, mas acabou atrasando por conta da inesperada (até para o próprio governo do estado) ocupação do Complexo do Alemão.

Nas últimas semanas, a polícia vêm fazendo operações rotineiras na favela (que, como sempre, resultaram em um número mínimo de prisões e apreensões) com o objetivo de “preparar” o terreno para a instalação da UPP. Hoje, por exemplo, a polícia trocou meia dúzia de tiros, colocou algemas em quatro pivetes e apreendeu um revólver velho.

E, nesta semana, a imprensa noticiou o dia exato da ocupação da comunidade. É claro, que não tem mais nenhuma bandido importante na favela. E é claro que todos os ativos da quadrilha (drogas, armas, equipamentos) já foram devidamente retirados da Mangueira.

No entanto, mesmo sabendo que não haverá nenhuma resistência por parte dos bandidos (pelo menos nenhuma resistência consistente. Pode ter alguma troca de tiros, mas nada que justifique blindados navais), o governo do Rio de Janeiro prepara um espetáculo para a anunciada ocupação.

Militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope), com apoio de blindados das forças armadas, preparam uma verdadeira operação de “guerra” para atrair a atenção de uma audiência de 16 milhões de espectadores (por que não dizer 190 milhões de espectadores).

Mas por que, mesmo sabendo que não haverá nenhum bandido na “contenção” (como os bandidos chamam suas linhas de defesa na favela), o governo do Rio prepara um exagerado espetáculo com os recursos dos contribuintes fluminenses?

A resposta é simples: as UPP são a única carta na manga do governador Sérgio Cabral para a área de segurança. Cabral não tem uma política consistente na área de segurança pública.

A Delegacia de Homicídios, inaugurada entre o final de 2009 e o início de 2010, ainda não mostrou para que veio. A esmagadora maioria dos homicídios do Rio de Janeiro continua sem ser elucidada.

A “política” de metas de redução da criminalidade não é uma política propriamente dita. Ela apenas dita as metas, sem traçar medidas específicas, e espera que, em um passe de mágica (ou em uma manobra estatística), os crimes violentos se reduzam no estado do Rio de Janeiro.

A milagrosa redução dos crimes violentos no Rio de Janeiro já se mostrou uma fraude. Segundo a Secretaria de Segurança, supostamente os homicídios vêm caindo num ritmo de 20%, mês após mês, desde o segundo semestre de 2009.

Mas dados da Secretaria Estadual de Saúde mostram que o número de mortes violentas sem intenção determinada (quando supostamente não se sabe se foi homicídio, suicídio ou acidente) aumentou de forma assustadora no governo Sérgio Cabral. Em suma, as mortes violentas continuam tão altas quanto eram em 2005 ou 2006.

Ou seja, os homicídios “caem”, mas as mortes violentas de intenção indeterminada explodem durante o governo Cabral (muito conveniente para o governo, não acham?).

Diante de uma política de segurança tão pífia (que tem como únicos resultados “concretos” estatísticas criminais manipuladas), o governo do Rio de Janeiro (e o governador Sérgio Cabral, que vive mais em Paris do que no estado que ele supostamente governa), são necessárias ações espetaculares para parecer que tudo está bem.

Por incrível que possa parecer, a ocupação do Complexo do Alemão com a ajuda de militares da Marinha e do Exército deu um Ibope muito favorável ao nosso governador.

De uma resposta desesperada do governo do estado para tentar conter ataques de criminosos (que colocaram o estado e as autoridades de joelhos), a ocupação do Alemão transformou-se em grande um “triunfo” do governo sobre o “crime organizado”.

Cabral incorporou a figura de “Dwight Eisenhower” e transformou a ocupação do Alemão num Dia D contemporâneo, consubstanciando sua incompetência (de não conseguir impedir a série de ataques criminosos que precederam a ocupação) em uma “suposta” vitória homérica.

Por mais ridículo e ingênuo que isso possa parecer, a imprensa carioca (que come na mão do governo), e a mídia em geral, celebraram a entrada dos policiais no Complexo como se isso fosse algo inédito e inovador (ignorando completamente as operações de 2007 no conjunto de favelas).

Cabral nunca teve momentos de tanta glória quanto naquele momento da ocupação do Alemão e nas semanas subsequentes. Naquele final de 2010, seu medíocre governo conseguiu jogar uma cortina de fumaça sobre seus fracassos e, com todo aquele espetáculo, foi capaz de parecer bom para milhões de ingênuos espectadores.

Mas os bons momentos sob os holofotes passaram. O governo Cabral acaba de sair de uma crise imensa (a manifestação dos bombeiros), da qual sai com sua imagem deveras manchada.

A ocupação da Mangueira, com blindados da Marinha, é uma tentativa desesperada de tentar limpar a imagem do governo, junto à população (que apoiou massivamente os bombeiros).

Só espero que a população (e principalmente a imprensa, que vai informar a população) não caia nesse golpe de marketing de um incompetente governo do estado.

A Mangueira pode ser ocupada com uma viatura ou com 100 blindados. Você, contribuinte, sabe dizer qual a forma mais barata de fazê-lo?

2 comentários:

  1. Vai ser um capítulo como foi o último: polícia fazendo pose pra tirar foto. Aí o fotógrafo diz: "não ficou boa" e a polícia faz pose de novo!!! Absurdamente cinematográfico. E só.

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