Não,não é uma piada. O governo acredita que, com números mostrando essa "expressiva" queda de homicídios, ele vai convencer a população que todo o fuzuê em torno da pacificação valeu a pena.
Um confronto armado entre militares do Exército e criminosos do Complexo do Alemão na noite de ontem (24) deixou um soldado ferido. Segundo o coronel Malbatan Leal, chefe de comunicação da Força de Pacificação que atua na comunidade, o militar foi encaminhado ao Hospital Central do Exército, sem gravidade.
De acordo com o coronel, o tiroteio ocorreu por volta das 22h30, quando militares patrulhavam uma área conhecida como Pedra do Sapo. Na versão do Exército, criminosos avistaram os soldados e atiraram contra eles. Os militares, então, reagiram.
Segundo Malbatan Leal, o grupo que atacou os militares tinha entre cinco e sete criminosos armados, provavelmente, com pistolas e fuzis. O confronto comprova a existência de criminosos atuando com armas longas dentro do Complexo do Alemão – área considerada “pacificada” pelo governo do Rio. Há um ano o Exército ocupa a comunidade.
“Vamos continuar patrulhando a área como um todo, ocupando todo o espaço, sob nossa responsabilidade. Não diria que há bolsões controlados por criminosos. Há, sim, cada vez menos espaços onde eles têm liberdade para atuar, por isso entra a possibilidade de encontro. Nosso trabalho continua de forma intensa e com inteligência”, disse o coronel.
Esse é só mais um episódio de violência envolvendo o “pacificado” Complexo do Alemão, nesses doze meses em que o Exército ocupa a área, preparando terreno para a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Em setembro deste ano, um grande tiroteio (que mais lembra a invasão do Iraque) atingiu o conjunto de favelas. E vários casos de homicídios, roubos e presença de homens armados atingiram o complexo nesse primeiro ano de ocupação.
Nem vou repetir aqui o quanto eu alertei, meses atrás, sobre os desafios que envolviam uma ocupação de longo prazo na comunidade.
Tampouco vou repetir aqui, que o Complexo do Alemão não está nem perto de ser pacificado, assim como algumas das favelas ocupadas por UPPs no Rio de Janeiro.
O que gostaria de destacar aqui é que, no mesmo dia em que o tiroteio acontece, ameaçando borrar a “festa” e a “fanfarra” pelo PRIMEIRO ANO de ocupação do Alemão pelo Exército, o Instituto de Segurança Pública (ISP) apressou-se em divulgar estatísticas, para, teoricamente, “comprovar” que a “pacificação” do Alemão está funcionando.
Abaixo, reproduzo os dados divulgados hoje pelo ISP, para tentar jogar uma cortina de fumaça na realidade e dar um upgrade no 1o aniversário da ocupação:
Área da 22a Delegacia de Polícia (que atende a 90% do Alemão)
No período de um ano antes da ocupação – 50 homicídios e 2 latrocínios
No período de um ano depois da ocupação – 43 homicídios e 2 latrocínios
Uau!!! Realmente dá para ver que houve mesmo uma “expressiva” queda nos homicídios da área do Alemão. Eram 50 e agora são apenas... 43. Isso... Apenas 43 homicídios em um ano.
Área do 16o Batalhão de Polícia (que inclui a 22a e a 38a DP) e área da 44a DP (que corresponde ao restante do Alemão).
No período de um ano antes da ocupação – 121 homicídios e 10 latrocínios
No período de um depois da ocupação – 110 homicídios e 6 latrocínios
É... Realmente eu me sentiria mais seguro num lugar pacificado, onde, antes aconteciam 121 assassinatos, e hoje, devido ao “grande” esforço do governo, só acontecem 110 assassinatos. É quase uma Suíça, mesmo, para parafrasear nosso secretário de Segurança.
É claro que o ISP divulga também que os roubos caíram na faixa de 30% a 40%. Mas, se um Instituto pode manipular estatísticas envolvendo mortes, que têm notificação obrigatória, por que não mexer em registros de roubos, que se contam aos milhares na região?
Bom, se você está satisfeito com uma pacificação que, depois de um exagerado carnaval e de extrema publicidade, reduz de 121 para 110 o número de homicídios, aplauda a “política” de segurança do governo do estado. Caso você ache esses resultados muito mixurucas, indigne-se, mostre sua insatisfação, interpele o governador e o secretário nas ruas, mande cartas para as TVs e os jornais. Exija resultados mais concretos e contundentes. Peça mais segurança para a sua rua.
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