domingo, 4 de julho de 2010

Policiais e bandidos trocam tiros no Cantagalo: O mito do fim do controle armado ilegal nas favelas com UPP cai por terra

Um tiroteio ocorrido na madrugada deste domingo (4), no Morro do Cantagalo, joga, descarga abaixo, um grande mito propagandeado pelo governo do estado: de que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) encerram o controle armado de criminosos nas favelas em que elas são implantadas.

Um homem foi baleado na madrugada de hoje, no Morro do Cantagalo, favela controlada pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde janeiro deste ano (portanto há seis meses).

O homem teria sido baleado no momento em que policiais da UPP tentaram prender um grupo de quatro homens armados que estavam oferecendo drogas, dentro da favela.

Mas espera um pouco... Pensemos comigo: o Cantagalo tem UPP. O governador do estado, Sérgio Cabral, e o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, vivem dizendo que as UPP acabam com o controle armado ilegal nos territórios. Além disso, nossas autoridades informam que as UPP encerram os confrontos armados. Certo? Pelo menos é o que dizem Cabral e Beltrame.

Então o que faziam quatro homens armados, com drogas, dentro de uma favela supostamente controlada completamente por uma policia que, se diz, impede o controle da comunidade por criminosos? E como foi haver um tiroteio, com vítima, em uma área cujo controle total é da UPP?

Sou só eu ou tem mais gente vendo uma grande contradição em toda essa história? Pelo menos uma coisa eu vejo em tudo isso: as UPP não são aquilo que o governo quer fazer com que pareçam.

Venho escrevendo, desde o ano passado, que as UPP não são esse milagre que Cabral, Beltrame e a imprensa vêm pintando...

Na última semana mesmo, escrevi um post aqui no blog (veja abaixo) sobre as dificuldades de se implantar UPP em grandes favelas do Rio de Janeiro.

Com base nos problemas que a polícia vem enfrentando para acabar com a venda semi-organizada de drogas na Cidade de Deus (a maior favela com UPP até agora), venho insistindo que a UPP é uma estratégia inviável para grandes favelas do subúrbio da cidade do Rio (ex.: Complexo do Alemão, Complexo da Maré).

Sob o meu ponto de vista, com base no paradigma Cidade de Deus, uma ocupação militar nos moldes do Dona Marta e Chapéu Mangueira não conseguirá impedir o controle de favelas como o Complexo do Alemão por quadrilhas armadas.

A ocorrência da madrugada de hoje no Morro do Cantagalo, uma favela de porte pequeno, só reforça minha tese de que o fim da ocupação armada do Alemão poderá não ser obtida com a simples instalação de uma UPP no local.

O Cantagalo é uma favela infinitamente menor, em termos populacionais, domiciliares e de área, do que os complexos do subúrbio e zona oeste do Rio de Janeiro.

Se a UPP, após ficar seis meses instalada na favela, é incapaz de impedir o controle armado de pontos de venda de drogas no Cantagalo, é óbvio que ela não conseguirá isso no vasto Complexo do Alemão.

Mais do que acender um sinal vermelho para a Secretaria de Segurança, que aposta todas suas fichas (políticas e eleitorais) nesse modelo de segurança por controle territorial, o episódio do Morro do Cantagalo serve para revelar, à população, quão falso é o mito de eficácia das UPP.

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