sexta-feira, 9 de julho de 2010

A saga da imprensa no Morro dos Prazeres: A realidade numa das mais de mil comunidades que ainda não tiveram o "privilégio" de receber uma UPP

Hoje fazendo a cobertura da visita da candidata à Presidência da República pelo PV, Marina Silva, ao Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, pude constatar na pele, mais uma vez, que nada (ou muito pouco) mudou na segurança pública no Rio de Janeiro.

Por mais que o governo do estado propague as supostas virtudes das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e o Instituto de Segurança Pública (ISP) diga que os índices de homícidios e roubos no estado estejam caindo vertiginosamente, a verdade é que muitas áreas do Rio de Janeiro continuam sendo controladas e oprimidas por quadrilhas armadas.

Como cheguei cedo ao Morro dos Prazeres para fazer a cobertura da visita da candidata, tive que procurar o endereço da casa onde ela inauguraria um comitê de campanha. Quem já andou em favela sabe que nomes de ruas e números de casas nem sempre são uma boa referência.

Então, comecei a rodar pela comunidade, dentro do carro de reportagem. Num determinado momento, encontrei o carro da rádio CBN que passava pelo mesmo martírio que eu, em busca do bendito endereço.

A repórter então me contou que seu carro tinha acabado de ser abordado por um bandido armado com uma pistola e que, por isso, ela estava receosa de continuar circulando pela comunidade.

Passamos então a circular em comboio, pela Rua Gomes Lopes, quando o clima começou a ficar mais tenso. Primeiro vimos mais um camarada caminhando pela calçada com uma pistola e encarando nossos carros.

Passamos por ele e, mais a frente, encontramos um grupo de quatro a cinco homens, entre os quais um portando um fuzil, que fizeram sinal para o carro onde eu estava parar. Por algum motivo, o motorista do meu carro resolveu desobedecer a ordem e continuou rodando, sem parar.

Suei frio e fiz um sinal da cruz mental, mas nada sofremos. Os bandidos logo viram que, em seguida, vinha um carro vermelho (e um pouco chamativo) com a marca da CBN e também tentaram abordá-lo. Desta vez, com sucesso.

Nosso carro parou mais na frente, para saber se algo aconteceria com a equipe da CBN. Neste momento, já me imaginava ou tendo que voltar a pé para conversar com os marginais, para resolver qualquer tipo de problema, ou tendo que ligar para a Polícia Militar, para salvar nossos colegas encrencados.

Mas, não. Em alguns segundos, o carro da CBN voltou a andar. Havíamos passado pelas “barricadas” do tráfico no Morro dos Prazeres. Posteriormente, a repórter da CBN contou que os bandidos perguntaram qual era o motivo da nossa presença em seu território. Como a repórter disse que estávamos simplesmente acompanhando Marina Silva e não “bisbilhotando” em sua área, fomos liberados.

Depois, ao deixar nossos carros, encontramos mais companheiros da imprensa, já dentro dos becos da favela, para tentar localizar Marina e sua equipe. Nesse momento, fomos abordados mais uma vez por um grupo de cinco ou seis homens em cima de uma laje.

Mas, desta vez, a abordagem foi bem amigável. Eles não perguntaram nada e, ao ver que estávamos perdidos, simplesmente nos indicaram o caminho onde poderíamos encontrar a candidata.

Bem, contei essa longa história apenas para que isto sirva como uma reflexão para todos os cidadãos do Rio de Janeiro. Apesar de toda fanfarra que a imprensa e as autoridades fazem em torno das supostas políticas de segurança inovadora adotadas pelo atual governo do Rio de Janeiro, a crua realidade nas ruas da cidade é outra.

Como disse, nada ou muito pouco mudou em relação à maioria das favelas do Rio de Janeiro. O Morro dos Prazeres, segundo planejamento do governo do estado, receberá em breve uma UPP e poderá acabar com essa “tirania” das quadrilhas armadas.

Mas levar uma UPP para o Morro dos Prazeres não mudará a realidade de outros 1.500 “morros dos prazeres” existentes em todo o estado do Rio de Janeiro, que continuarão vivendo à margem do Estado, entre o fuzil do bandido e o fuzil do policial.

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