Turistas podem pegar elevador para chegar até mirante do Cantagalo, mas são desencorajados por policiais a pegar elevador que vai do mirante até a favela com UPP
Uma reportagem do caderno de turismo do New York Times sobre o Rio de Janeiro traz uma informação um tanto curiosa. Trata-se de um guia para aproveitar a cidade, em 36 horas, para além das praias: 36 Hours in Rio de Janeiro.
Lá pelo meio da matéria, o repórter resolve falar sobre o novo mirante do Cantagalo, construído em frente à favela, hoje “controlada” por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
O repórter (ou a repórter, não dá para saber) Aric Chen diz que o mirante oferece uma diferente visão do Rio de Janeiro:
“Esqueça aquelas visões perfeitas de cartão-postal a partir do Pão-de-Açúcar e do Corcovado. Nesse verão, como parte de um esforço para melhor integrar as favelas com a cidade, o Rio revelou uma cintilante torre de elevador que se ergue por mais de 20 andares para conectar Ipanema com a favela do Cantagalo acima. Na esquina das Ruas Teixeira de Melo e Barão da Torre, pertinho da Praça General Osório, essa progressiva peça de arquitetura tem um deque de observação com vistas para Ipanema e Copacabana”, elogia o repórter.
Mas é aí que surge o desapontamento do repórter do NY Times. Provavelmente ao buscar conhecer o exótico mundo das favelas cariocas, depois de se ver tão perto do Cantagalo, Aric parece ter tentado chegar aos elevadores que ligam o mirante à comunidade carente.
O repórter, no entanto, parece ter sido impedido ou desencorajado a prosseguir em sua empreitada por policiais:
“Guardas podem impedi-lo de pegar o segundo grupo de elevadores para a favela propriamente dita”, afirma Aric.
Ei, ei, ei... Espera aí. O que foi que eu acabei de ler? Um turista impedido pela polícia de entrar na favela? Mas por quê?
Que motivo levaria policiais a desencorajar turistas de entrar no Cantagalo? Será que há algum risco para a integridade ou a vida dos turistas? Será que há risco de os turistas serem roubados, sequestrados ou mortos?
Ué, a favela do Cantagalo não está controlada por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) há nove meses? A propaganda do governo do Estado não diz aos cidadãos (e eleitores) que a comunidade do Cantagalo está livre da bandidagem?
O governador Sergio Cabral não tem cantado em verso e prosa as virtudes da UPP do Cantagalo (inclusive tendo gravado seu programa eleitoral no “Mirante da Paz”)? Cabral não tem repetido o mantra de que as UPP trouxeram paz ao Rio?
Por que então policiais têm impedido turistas de pegar os elevadores que ligam o mirante à favela, como relata o repórter do New York Times?
A breve passagem do artigo do New York Times poderia passar despercebido por qualquer um. Mas a mim chamou atenção, principalmente porque tem havido indícios de que o Cantagalo e o Pavão-Pavãozinho não estão livres do controle armado de bandidos.
Em julho (sete meses depois da instalação da UPP), bandidos que vendiam drogas dentro do Cantagalo trocaram tiros com policiais da UPP, mostrando a existência de controle armado na favela.
Recentemente, um banco estatal desistiu de implantar uma agência na comunidade do Pavão. O motivo oficial, segundo o banco, é que eles não teriam encontrado um imóvel adequado. Mas o verdadeiro motivo é que funcionários do banco foram três meses atrás à favela, para sondar o terreno, e deram de cara com bandidos armados de fuzis e pistolas.
Agora leio que um repórter do NY Times foi impedido pela policia de entrar na favela através do Mirante da Paz.
Na minha opinião, há algo muito estranho na UPP do Cantagalo/Pavão-Pavãozinho, que o governo do Estado não nos quer revelar. E esse segredo que o estado guarda do resto da população, provavelmente com a conivência da grande imprensa, é: a UPP não foi capaz de acabar com o controle armado ilegal nessas favelas.
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Pedido de Pastor - Vamos escolher melhor nossos representantes
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=JpFDrHDECHI