Expansão do programa, que já funciona em áreas nobres do estado, para outras áreas nobres, mostra que nossas políticas de segurança cidadãs só beneficiam as classes mais altas
Li no jornal O Globo que o Programa de Dedicação Integral ao Cidadão (Dedic), uma ideia promissora da Polícia Civil, vai se expandir para o restante do estado, depois de seis meses de experiência na zona sul e Tijuca. Adivinha para onde o programa será levado nesta segunda etapa?
Não precisa pensar muito. Pensa para onde são levadas as principais políticas de segurança e ordem públicas no Rio de Janeiro. Pensa onde foram implantadas as operações de choque de ordem, onde existem os maiores efetivos policiais, onde existem câmeras de monitoramento de segurança, onde foram instaladas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), enfim para onde o Estado sempre olha com carinho.
Se você pensou na zona sul e outras áreas mais nobres da cidade (Barra e arredores e Tijuca) acertou.
Está claro que uma política de atendimento integral ao cidadão jamais chegará primeiro (se é que chegará) ao subúrbio, à zona oeste, à Baixada, ao Grande Rio ou ao interior.
Para quem não sabe, o Dedic é um programa da Polícia Civil que permite ao cidadão pré-registrar uma ocorrência pela internet e depois receber o inspetor policial em sua própria casa, para finalizar o registro.
O programa foi iniciado nas delegacias de... (adivinhem)... Copacabana, Leblon, Gávea, Barra, Tijuca e Icaraí (área nobre de Niterói)...
Campo Grande também foi contemplado, mas imagino que seja muito mais para ocultar uma a preferência escancarada à zona sul do que por genuína intenção de melhorar a vida do cidadão de “Big Field”.
Agora, na anunciada expansão do Dedic para o “resto da cidade”, leio no Globo, que os próximos felizardos a receberem o programa de “dedicação integral” são os moradores de... (tchan, tchan, tchan, tchan!!!)... Ipanema, Recreio, Flamengo, Botafogo e Vila Isabel...
Claro, Taquara e Tanque (em Jacarepaguá) também vão receber o programa. Mas lembrem-se de que é lá que ficam os novos projetos imobiliários nobres da cidade e é lá que ficará o coração das Olimpíadas Rio 2016.
Nenhuma novidade. Subúrbio, zona oeste, Grande Rio e interior vão ser beneficiados depois (sabe-se lá Deus quando), segundo informação do chefe da Polícia Civil, Alan Turnowski.
É a mesma lorota contada pelo nosso governador Sérgio Cabral, que, em campanha em busca da reeleição, continua ludibriando a população, dizendo que vai levar as UPP para TODO o estado, quando isso (comprovadamente) não está em seus planos.
Nossa história mostra que cidadãos mais pobres, que sempre foram tratados como pessoas de segunda classe por nossas autoridades públicas, não costumam receber tal tratamento VIP.
Você por acaso imagina um morador de Costa Barros ou de Acari sendo tão bem tratado pelo nosso Estado. Olhando para o atual governo estadual e para todos os demais que o precederam, não consigo imaginar isso.
Pelo contrário. Consigo imaginar esses cidadãos esperando quatro horas numa delegacia e sendo mal tratado pelo policial. Consigo imaginar também esse cidadão tendo seus filhos mortos pela polícia, com projéteis de fuzis que foram pagos com o dinheiro de seus próprios impostos. Mas não os vejo sendo tão bem tratados pelo Estado.
O engraçado é que, quem elege nossos governadores, prefeitos, deputados, senadores e outras espécies parasitárias eleitorais, são sempre as populações mais pobres (porque somam mais eleitores).
Mas uma vez terminadas as eleições, essas pessoas nunca vêem o Rio dos Benefícios irrigando suas vidas. Nossos políticos sempre tratam de desviar esses rios, com programas de transposição, para as áreas da cidade onde vivem e transitam seus financiadores de campanha.
Enfim, essa é uma história que se repete no nosso Rio de Janeiro e no nosso Brasil como um todo.
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