quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A verdade sobre a política de expansão das UPP

Por que o governador-candidato diz uma coisa para o TRE e outra coisa para o eleitor?

Já escrevi inúmeras vezes aqui e no Twitter que é impossível de se cumprir a promessa do governador Sérgio Cabral de colocar, até 2014, Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em todas as favelas controladas por criminosos no Rio de Janeiro (o que dá algo entre 1.500 e duas mil comunidades).

A proposta é inviável não só pelo curto espaço de tempo prometido pelo governador-candidato, mas também porque isso exigiria um aumento extraordinário de efetivo da Polícia Militar (imagino que seria necessário, ao menos, dobrar o efetivo) e possuiria um orçamento anual proibitivo (principalmente em um estado onde o governador diz que precisa dos royalties do petróleo para reajustar salários do funcionalismo público).

Mas o surpreendente é que, apesar de Cabral informar para os eleitores, em todas entrevistas, debates e programas eleitorais, que vai cumprir essa promessa absurda, seu programa de governo oficial, entregue ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE/RJ) diz o contrário.

Segundo o plano de governo homologado na Justiça Eleitoral (que pode ser acessado nesse link e, depois, clicando em “proposta de governo”), a promessa de Cabral é infinitamente mais modesta. No plano, Cabral se compromete apenas a levar UPP diretamente a 600 mil pessoas (número de pessoas que moram em um raio de 1 km do epicentro das favelas). Indiretamente (pessoas que moram em um raio de 1 a 2 km do epicentro das favelas), o governo prevê atender a apenas 1,5 milhão de pessoas.

Consideremos que o estado do Rio de Janeiro tem 16 milhões de habitantes, que todas as cidades grandes e médias do Grande Rio e do interior têm favelas e que essas favelas, em geral, se situam em áreas urbanas (portanto onde se localiza a maior parte da população).

Sendo assim, se Cabral cumprisse o que ele está prometendo oralmente em seu programa eleitoral e nas entrevistas e levasse UPP a todas as favelas até 2014, ele precisaria atender a algo como 2 a 3 milhões de pessoas diretamente e algo entre 6 e 8 milhões de pessoas indiretamente (pelo menos).

Mas Cabral diz, claramente, ao TRE, que ele é só pretende levar UPP a 600 mil pessoas diretamente e 1,5 milhão indiretamente (se não confia em mim leia, você mesmo, o programa de governo de Cabral ou mesmo o site do governador www.sergiocabral15.com.br).

A proposta oficial do governador, homologada na Justiça Eleitoral, prevê um número CINCO VEZES MENOR do que o que Cabral promete ao eleitor em sua campanha na TV e em comícios.

Minha conclusão é que, no discurso para o povão, Cabral está inflando o alcance das UPP para parecer que a política da polícia pacificadora é voltada para todo o estado. Em seu discurso popular, Cabral diz que o morador do subúrbio, da zona oeste, da Baixada e do interior vai ser beneficiado com a política.

Mas, para o TRE, Cabral assume o discurso realista. UPP só para 600 mil pessoas. UPP não é para o estado todo, é apenas para umas poucas áreas privilegiadas.

O problema é que o povão não vai acessar o site do TRE ou o site do governador para perceber a distorção. O povão vai acreditar no que Cabral está prometendo de boca. Logo, o que valerá, para o eleitor, é uma promessa absurda que o governador e a Justiça Eleitoral sabem que não será cumprida.

Para se ter uma ideia, hoje as UPP atendem a algo em torno de 400 mil pessoas diretamente (dentro do raio de 1 km) e 900 mil pessoas indiretamente (dentro do raio de 2 km), em 35 favelas e em sete bairros. Se Cabral cumprir apenas o que foi prometido ao TRE, ele vai aumentar em apenas 50% o alcance das UPP, nos próximos quatro anos.

E o que é mais surpreendente em toda essa história é que, se Cabral está se comprometendo oficialmente a levar UPP a apenas mais 200 mil pessoas, isso significa que, dos três grandes complexos de favela (Alemão, Maré e Rocinha), apenas um poderá ganhar polícia pacificadora (se ganhar). E eu aposto na Rocinha, porque ela fica na zona sul.

Logo, acabo de comprovar o que venho dizendo há semanas. A promessa de levar UPP para todas as favelas controladas por bandidos é mentirosa.

2 comentários:

  1. E só deve rolar na Rocinha uma UPP pra dar satisfação à opinião pública depois do episódio da invasão por traficantes ao hotel de luxo de São Conrado. E tende a ser uma UPP das menos eficazes, tipo a da Cidade de Deus ou pior. É que não deve ser nada interessante incomodar e acabar de vez com a atividade criminosa nos principais entrepostos da droga no estado, caso da Rocinha e do Alemão. E até agora, nada indicou mesmo vontade política deste governo de fato em atacar o problema do tráfico de armas e drogas na sua raiz, só mesmo na superfície e olhe lá, por meio, principalmente, do confronto armado, do extermínio dos jovens empregados no varejo da droga, sem falar nas mortes colaterais de inocentes, de crianças e até de idosos.

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  2. Concordo com tudo. Cabral nada fez além do que seus antecessores fizeram (praticamente nada). A UPP é uma política de relativa eficácia, mas ainda assim é uma iniciativa de alcance restrito, local e seletivo. Enfim, não é para melhorar a situação do Rio de Janeiro, mas de poucas áreas do estado. Obrigado pela visita ao blog...

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