Em apenas dois meses, pelo menos 11 laboratórios de produção de cocaína foram descobertos no país pela Polícia Federal e por polícias estaduais em diversas operações. O levantamento foi feito pela Agência Brasil com base em informações das polícias ou de notícias de jornais no período de 1º de março a 3 de maio deste ano.
Os laboratórios são usados para transformar a pasta-base de coca, importada de outros países, no produto final a ser consumido pelos brasileiros, seja o cloridrato de cocaína (cocaína em pó) seja a pedra de crack, um subproduto da coca.
O aumento dos laboratórios clandestinos de refino de cocaína no Brasil já havia chamado a atenção da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, que destacou a tendência em seu último relatório, divulgado em março deste ano.
Segundo o chefe da Divisão de Controle de Produtos Químicos da Polícia Federal, delegado Rodrigo Avelar, a maior parte da cocaína que entra no Brasil vem da Bolívia sob a forma de “base”. A transformação da maior parte da droga para consumo final é feita em território brasileiro.
O delegado afirma que isso não é um fenômeno novo e que, há pelo menos dez anos, os traficantes brasileiros têm preferido comprar a cocaína em forma de base, em vez de comprá-la já pronta para o consumo.
“Uma vez que ela chegue aqui em forma de base ou já é feito diretamente o crack ou ela passa pelo processo de refino para que ela chegue à forma do cloridrato. Para os bolivianos é interessante vender a cocaína base, porque eles não precisam gastar dinheiro refinando. Para os brasileiros é interessante comprar a base porque, se ele compra uma droga com um valor relativamente mais baixo, o lucro pode ser maior depois do refino”, disse Avelar.
Avelar chama a atenção, no entanto, para o fato de que nem todos laboratórios encontrados pela polícia são realmente laboratórios de refino. Segundo o delegado, muitos desses locais não refinam a cocaína, mas apenas adulteram a composição da droga pronta, para aumentar seu volume.
De acordo com a Polícia Federal, em 2009, pelo menos 1,4 mil quilos de cocaína foram apreendidos sob a forma de pasta-base. Mas essa é apenas uma parte da coca-base apreendida.
No ano passado, os registros policiais de grande parte das 18,8 mil quilos de cocaína apreendidas não informavam se a droga estava no formato pasta-base ou se já vinha de outro país refinada.
Por isso, segundo Avelar, não é possível dimensionar com exatidão quanto de cocaína não refinada entra no Brasil. O delegado afirmou que a Polícia Federal vem desenvolvendo um projeto chamado de Pequi, que busca identificar o perfil das drogas utilizadas no Brasil.
A partir dessa iniciativa, será possível determinar o percentual da droga que entra no país já refinada e aquele que entra na forma de base, para ser refinado em laboratórios brasileiros.
*Matéria publicada na Agência Brasil
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